‘Mary and Max’: solitários e especiais

Juro que não foi proposital ter assistido dois filmes seguidos com protagonistas especiais. Após a cinebiografia da autista “Temple Grandin“, assisti à animação “Mary and Max – Uma Amizade Diferente” (Mary & Max, AUS, 2009, dir.: Adam Elliot), sobre uma amizade epistolar (mantida por cartas) entre uma garota australiana e um portador de Síndrome de Asperger – estado leve do espectro autista, geralmente com maior adaptação funcional.

A técnica de animação stop motion e o texto com muita narração em off sugerem, à primeira vista, um filme infantil. Mas não se enganem. No máximo, “Mary and Max” poderá ser entendido pela plateia infanto-juvenil para cima, pois aborda temas como sexualidade, homossexualidade, alcoolismo, além do principal, que é a perspectiva de uma pessoa com transtorno de desenvolvimento.

Tudo começa quando Mary, uma criança solitária e com pais distantes, escolhe a esmo um nome na lista telefônica de Nova York para enviar uma carta. É como começa a se corresponder com Max. Nós primeiros anos de amizade epistolar, a visão de mundo de ambos é muito similar, simples e pura. À medida que Mary cresce, porém, suas cartas vão impondo a Max questões humanas mais complexas, que ele tem dificuldade de “digerir”.  Uma delas  o confunde a ponto de instalar uma crise, que demanda a sua internação em uma instituição pelo período de oito meses.

O filme trata disso com tanta normalidade que desarma nossos preconceitos. Sem falar que é encantadora a forma como os dois solitários e diferentes – cada um a seu modo – se ajudam, se entendem e se amparam mesmo a oceanos de distância.

Está aí outro filme imperdível sobre diferentes maneiras “especiais” de ver e entender o mundo – ou, ao menos, o maior perímetro possível além do nosso umbigo.