Adeus, ‘captain, my captain’

Os bastidores do cinema são mesmo caixas de surpresas, às vezes de muito mal gosto. Está sendo surreal para mim conceber que a pessoa por trás daquela presença solar que era Robin Williams na tela foi capaz de renunciar à vida de forma tão amarga. Realidade demais propiciada por alguém que me fez sonhar, rir e chorar em tantas produções – era um dos atores que me faziam assistir a um filme só por ele estar no elenco.

Interessante que ele tenha carregado o rótulo de ator cômico, porque foi em dramas que mais me emocionou. Ainda morro de chorar sempre que assisto a “Sociedade dos Poetas Mortos” (1989), o filme que primeiro me apresentou ao seu carisma. Tenho certeza de que outro ator não daria ao “professor Keating” a mesma personalidade carinhosa que me fez querê-lo como pai, professor, amigo, confidente.

No belíssimo ‘Amor Além da Vida’

Em “Amor Além da Vida” (1998) acreditei piamente em sua dor como pai de dois filhos mortos em um acidente de carro. Quis abraçar e cuidar do mendigo lírico que ele interpretou em “O Pescador de Ilusões” (1991), obra–prima do ex-Monty Python Terry Gilliam. E que outro ator daria tanta legitimidade a um robô que vai se humanizando ao longo de dois séculos como o Andrew de “O Homem Bicentenário” (1999), inspirado em obra de Isaac Asimov?

Em ‘O Pescador de Ilusões’

Nos últimos tempos li aqui e ali rumores da fase negra da vida de Williams – problemas financeiros precipitando sua volta à TV, vícios, depressão -, mas nada me preparou para seu ato final.

Mesmo assim, despeço-me agradecida por sua vida, que nos divertiu tanto.

Adeus, “captain, my captain!”.