Com Michael Jackson, a música encontrou a linguagem do cinema

Cena 1:
– Conversível que leva um jovem e bonito casal para, sem gasolina, em uma rua escura;
– Eles saem caminhando e aproveitam para conversar, se declararem.
– O rapaz começa a dizer que não é como os outros caras que ela conhece
– Enquanto isso uma lua cheia sai detrás de um manto de nuvens no céu
– O rapaz começa a contorcer-se em caretas até se transformar em um monstro, diante dos gritos da mocinha;

O que começou como um filme romântico agora parece um thriller de terror.
E é!
Assim começa “Thriller”, de Michael Jackson, o videoclipe com de mais de 13 minutos de duração (até hoje um recorde para o gênero) que revolucionou a forma como se fazia vídeos musicais até então. Depois dele – e de muitos outros clipes de Michael desta época, como “Beat it” – nunca mais esse tipo de produção se restringiria a apenas encadear cenas de shows ao vivo ou de músicos dublando as próprias gravações em um cenário imóvel.

Os clipes de Michael eram diferentes e super-produzidos. Contavam uma história, assemelhando-se por isso a curtas-metragens, mas ao mesmo tempo diferenciando-se deles pela forma fenomenal como combinavam números de dança e música a hipnotizarem o espectador.

Com o sinal verde de Michael para casar da melhor forma a força de sua música à imagem em movimento, os diretores de seus clipes, recrutados no cinema, como John Landis e Spike Lee, deixavam a criatividade rolar, sempre auxiliados pela melhor e mais recente tecnologia que o dinheiro podia pagar. Vide “Black and White”, primeiro clipe a usar o efeito morfo para mostrar imagens de pessoas de várias raças transformando-se umas em outras, ou “Stranger in Moscow”, que usou o recurso da câmera ultra lenta de uma forma inédita para a época.

A lista de videoclipes memoráveis não para aí e inclui, só para ficar entre os meus favoritos, “Smooth Criminal”, “Heal the World”, “Earth Song”, “Childhood” (além dos primeiros citados acima).

Michael Jackson pode não ter sido o idealizador de todas as músicas deliciosamente dançantes ou de todos os clipes fantásticos que protagonizou, mas ter sabido se cercar das melhores cabeças do ramo já era uma prova irrefutável de sua genialidade. Não por acaso tudo o que fazia virava ouro – digo, milhões de dólares.

Mas nem os orçamentos milionários, nem diretores de cinema ou as tecnologias de última geração fariam desses videoclipes o sucesso que são até hoje não fosse um componente fundamental: o TALENTO do próprio Michael Jackson. Fora dos palcos ou das câmeras ele parecia um sujeito mirrado, magricela, de voz infantil e identidade sexual duvidosa, mas à frente deles transformava-se em um gigante, um fenômeno!!! Um showman de carisma, presença e ginga até hoje incomparáveis e sem similares na história da música pop.

Restrinjo-me aqui a comentar apenas a parte de sua carreira que “namorou” com o cinema por motivos óbvios [é um blog de cinema, minha praia…], mas confesso que, a despeito de todas as polêmicas e escândalos que rondaram sua vida pessoal, sempre AAA-DOOO-REEEEI o trabalho de Michael e nunca dei a mínima para os preconceitos dos puristas, sempre contrários, por princípio, a tudo o que faz sucesso em escala de massa.

Não dá para ninguém negar. O cara era talentoso!

Até hoje sinto saudades de como novas músicas e videoclipes seus me faziam sentir.