Ralph Fiennes: todas as emoções no olhar

Considero Ralph Fiennes um ator completo, por dominar tanto linguagem corporal quanto expressão facial, voz e timing de cena. Mas o que mais me atrai nele é, sem dúvida nenhuma, seu meigo e expressivo olhar, que ele sabe tornar ora sensual, ora doce, às vezes, implacável e, quando preciso, assustador.

Assisti-lo pela primeira vez no cinema como o Heathclif de “O Morro dos Ventos Uivantes” (Wuthering Heights, EUA/ING, 1992, dir: Peter Kosminsky) foi para mim um choque! Perguntei-me na hora “de onde surgiu este ator de traços refinados, que carrega todas as emoções do mundo no olhar?”. Passei a procurar por filmes em que ele atuava e não me decepcionei uma única vez.

Workaholic, Fiennes atua em duas a quatro produções cinematográficas por ano e ainda tem tempo de fazer muito teatro, sua grande paixão. No cinema, não tem medo de aceitar papéis desafiadores, como o mordomo alcoólatra e homossexual de “Bernard e Dóris” ou os vilões do filme “Spider” e da série “Harry Potter” (é ele por trás de toda aquela maquiagem de Lord Voldemort).

Suas atuações conseguem provocar tanto sentimentos de rejeição, como o fez seu perverso Amon Goeth de “A Lista de Schindler” e seu Duque de Devonshire em “A Duquesa”; quanto seus personagens românticos conseguem enternecer em filmes como “Estranhos Prazeres”, “O Paciente Inglês”, “Paixão Proibida” e “Fim de caso”. Sob a direção do brasileiro Fernando Meirelles (de “Cidade de Deus”), ele encantou como o apaixonado protagonista de “O Jardineiro Fiel”.

Sua presença em cena consegue dar dignidade até a personagens improváveis como o político da bobinha comédia romântica “Encontro de Amor” – pobre Jennifer Lopez, desfilando seus limitados dotes dramáticos ao lado de tal ator.

Mas lindo e apaixonadamente vulnerável ele está mesmo em “Paixão Proibida” (título idiota que ganhou no Brasil “Onegin”), adaptação para o cinema da obra clássica “Eugene Onegin”, do russo Aleksandr Pushkin – a mesma da ópera famosa, com músicas de Tchailovski. A irmã de Ralph, Martha Fiennes, estreou na direção de longas com este filme e não fez feio. Ralph muito menos!