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Carta aberta a um deputado

Caro deputado Beto Mansur:

Entendo que, como vice-líder do governo Temer na Câmara Federal, o senhor tenha lá que defender as decisões do mandatário, mas saiba que isso não lhe dá o  direito de subestimar nossa inteligência.

Suas últimas declarações sobre as decisões judiciais que têm impedido a ministra Cristiane Brasil de tomar posse na pasta do Trabalho chegaram a me dar ânsias de indignação (“Não importa que um ministro do Trabalho algum dia teve uma ação judicial no Ministério do Trabalho. Senão nós vamos ficar preocupados agora que o ministro da Saúde não vai poder ser fumante, que o Ministro dos Transportes não vai poder ter multa de trânsito… Aí nós vamos ficar loucos no Brasil”).

Com o perdão do vocabulário, deputado, a quem o senhor acha que engana com esse papinho “malandro 171” versão “colarinho branco”?

É claro que um ministro do Trabalho com histórico de desrespeito às leis trabalhistas e um Ministro dos Transportes com multas de trânsito não têm moral nenhuma para assumir tais cargos e merecem toda a nossa desconfiança, por motivos óbvios (se não fazem a “lição de casa”, muito menos os deveres principais) – a analogia ao “ministro da Saúde fumante”, o senhor me desculpe, mas é digna de ignorar, pois fumar é uma escolha pessoal que não agride a lei nenhuma que um ministro da Saúde deva defender.

Mas é claro que o senhor sabe muito bem disso tudo, pois duvido que confiaria, por exemplo, o seu rico dinheirinho de parlamentar a um consultor de investimentos com histórico de perdas financeiras.

Da mesma forma, senhor Mansur, nós não temos que engolir diretores de Ciretran com 120 pontos na CNH ou ministras do Trabalho com R$ 74 mil em dívidas trabalhistas.

Sobre “ficar loucos no Brasil” à procura de ministeriáveis sem histórico desabonador o senhor fale apenas por si mesmo, pois este país tem, sim, gente honesta, competente e capaz de assumir cargos de gestão. Mas, claro, o senhor e seus pares não devem conhecer mesmo (cheguem, eleições!).

(*) Artigo publicado no jornal A Cidade em 18/1/2018