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Tempos tristes estes!

Há pouco mais de um ano, escrevi em meu blog de cinema e vídeo CINÉLIDE sobre reflexão provocada pelo filme “Selma – Uma Luta Pela Igualdade” (2015), que reconstitui os bastidores da marcha liderada pelo pastor Martin Luther King Jr. pelo direito a voto dos negros, iniciada na cidade homônima do Alabama (EUA). Confessei que senti inveja da liderança firme, porém pacífica exercida pelo então líder do movimento pelos direitos civis dos negros, já que por aqui, no Brasil, as manifestações a que assistíamos não tinham nada a ver com a paz que ele pregava.

No aniversário de 50 anos do assassinato de King, no último 4 de abril, assisti pela TV a depoimentos de participantes da marcha de 1965, que terminou em violenta repressão policial, gerando indignação e solidariedade de norte-americanos de todos os cantos do país. Avaliaram os entrevistados que pouco se avançou desde então em conquistas reais pelos direitos humanos nos EUA, principalmente na cidade de Selma, onde negros e brancos ainda moram em bairros opostos e frequentam escolas, comércios e instituições diferentes.

E passaram-se 53 anos desde a marcha iniciada em Selma!

Por aqui, há quase cinco nos dividimos em um “Fla x Flu” político que só nos enfraquece, quando deveríamos estar mobilizados (todos juntos!) para a formação de novas lideranças políticas, comprometidas com ideais constitucionais e de defesa de direitos humanos. Do contrário, daqui 50 anos estaremos elegendo o mesmo perfil de políticos de hoje.

Tenho pra mim que mudar o perfil da classe política não dependerá só de nossas escolhas nas urnas daqui para frente, mas também da forma como estamos educando nossos filhos hoje e de passarmos a seguir ONTEM o exemplo da vereadora Marielle Franco, de trabalhar pelo bem da coletividade em sua própria vizinhança. Se todos nos tornarmos Marielles em “nossos quadrados” acho que teremos alguma chance.

Infelizmente, isso está longe de ocorrer. Na polarização política de hoje, de um lado soltam rojões pela prisão de um líder político amado pela corrente oposta… e esta corrente oposta desabafa sua amargara agredindo imprensa e pichando casa de uma ministra… e ambas as correntes seguem se agredindo, desrespeitando-se, odiando-se.

Tempos tristes estes!

‘Selma’: uma reflexão

Assistindo emocionada ao filme “Selma”, sobre os bastidores da marcha liderada por Martin Luther King pelo direito ao voto dos negros,  melancolicamente passei a refletir sobre a diferenças entre aquele momento político e o nosso atual no Brasil.

Quase senti inveja daquelas pessoas que tinham como inimigos opressores muito claros – o ódio e preconceito de uma parcela da população branca e a omissão da classe política –, mas como líder o pastor Martin Luther King, que conseguiu conduzi-las através de um mar de violência e ódio de forma pacífica, embora firme.

Hoje, no Brasil, a grande maioria da população é oprimida pela privação de direitos constitucionalmente essenciais, que são educação, saúde e alimentação decentes e dignos. Mas seus algozes não são declarados como os racistas norte-americanos. São pessoas que passam por respeitáveis na estrutura social enquanto integram redes de corrupção entranhadas em todas as estruturas de poder. E não temos um líder compassivo e justo como King para nos conduzir – achamos que Lula o seria, que pena!

Enquanto em “Selma” assistimos a pessoas de todas as cores de pele, religiões e crenças solidarizando-se com os oprimidos negros, no Brasil assistimos a uma triste desunião. Uma grande parte da classe média e a maior parte da classe alta saem às ruas fazendo manifestações preconceituosas (contra nordestinos, pobres e a quem mais pensar diferente deles), desrespeitosas (xingamentos de baixo nível principalmente contra a maior autoridade do País) e (absurdo dos absurdos!) de incitação a golpes ao Estado de Direito. Tudo para defender os interesses de sua classe.

Em “Selma”, a união venceu a opressão e, por aqui, brasileiros destilam discurso de ódios contra outros brasileiros apenas por discordarem.

E assim seguimos um País enfraquecido pela cisão e a intolerância mútua.