Amor, sexo, tensão social e humor de HQ em ‘True Blood’

“Não repare se, por acaso, eu parecer um pouco… morta”.

 

A frase acima é dita por uma vampira adolescente ao namorado humano, com quem pretende perder a virgindade – mas não antes de render-se ao seu reparador sono diurno. “Fico meio doente de dia”, explica docemente, ainda de presas à mostra.

Esse tipo de humor prevalece em quase todas as cenas de “True Blood“, mais uma série sobre vampiros, estes personagens fantásticos que escritores e roteiristas das mais variadas épocas e mídias adoram explorar dramaturgicamente. Da literatura aos quadrinhos, da TV ao cinema, a lista de produtos envolvendo esse gênero de mortos-vivos é grande. Tanto que dei de ombros quando ouvi falar sobre a série. O argumento de “True Blood”, porém, me surpreendeu.

Aqui os vampiros “saem do armário” (digo, do caixão) e passam a conviver entre humanos após terem seus direitos civis assegurados por lei, mas sob a condição de deixarem de matar para se alimentarem. Isso se torna possível com a produção, em escala industrial, da bebida Tru-Blood (trocadilho com o nome da série, que significa “sangue genuíno”), espécie de sangue artificial que supre as necessidades alimentares dos vampiros.

Mas como estamos falando da sociedade humana, na qual nenhuma transição social se dá sem guerra civil, declarada ou não, algumas parcelas da população discordam da integração e vão à luta. Não por acaso, aliás, o seriado se passa no sul dos EUA, berço da Klu Klux Klan (é impagável assistir a vampiros falarem inglês com sotaque sulista).

Do lado dos vampiros também há os que desprezam a nova política, tornando necessária uma organização social paralela, que pune quem fere os estatutos da espécie. Assim é que a comunidade vampira também tem seus xerifes de área, magistrados, governadores e até uma rainha, que volta e meia vai à TV participar de debates com políticos contrários à integração.

E esta prossegue mesmo aos trancos e barrancos, trazendo em seu bojo – como qualquer mudança – muito preconceito, consequências boas (como a abertura de um novo nicho de mercado para os vampiros, com criação até de quartos de hotéis à prova de sol, por exemplo) e ruins (no mercado negro, comercializa-se sangue de vampiro, que tem nos humanos mais ou menos os mesmos efeitos que a cocaína).

Neste quadro, o amor entre diferentes não podia ficar de fora. A protagonista Sookie, uma humana com poderes telepáticos interpretada por Ana Paquin (Oscar por “O Piano”), vive um caso de amor com o vampiro Bill Compton, interpretado charmosamente pelo inglês Stephen Moyer.

Cenas de sexo são o grande apelo da série – tem, no mínimo uma com nudez explícita por episódio -, mas pelo menos todas estão inseridas dentro de um contexto na história. Não chegam a ser gratuitas, mas obrigam a série a ostentar classificação indicativa para maiores de 18 anos.

O humor, nada convencional, é o melhor trunfo de “True Blood”… depois das questões sociais. É irônico, surreal, muito parecido com o das histórias em quadrinhos. Tanto que desconfio que nem todos os espectadores saberão apreciá-lo. Eu adoro! E recomendo.