‘A Rede Social’ e a juventude 2.0

Nerds, geeks, geração Y, juventude 2.0… Todos esses “clubes” estão representados em “A Rede Social“, filme de David Fincher que conta a história de como foi criado o Facebook, o site de relacionamento mais popular do planeta. Se você não pertence a nenhum deles, porém, não se preocupe. O informatiquês de alguns diálogos não compromete o entendimento deste thriller interessantíssimo sobre o universo de uma geração que nasceu falando em linguagem de bits.

Basicamente, o roteiro gira em torno da figura de Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), um nerd que ficou bilionário aos 23 anos graças à invenção do Facebook de seu dormitório na Unversidade de Harvard. Tudo começa na noite em que ele leva um fora da namorada e seu cérebro embotado de cerveja hackeia a rede da instituição para expor dados de suas alunas. Sua façanha chama a atenção de três outros estudantes, membros de um proeminente clube de Harvard, que o convidam a colocar em prática a ideia de uma rede social dentro da universidade. Mark concorda, mas desaparece e concretiza a ideia sozinho, com capital do melhor amigo, o brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield) – em quem também dará uma “rasteira” quando o Facebook torna-se um grande investimento.

As disputas judiciais que os quatro “passados para trás” movem contra o já bilionário Zuckerberg servem de espinha dorsal para a montagem do filme, todo entrecortado por flashbacks. Mas o mais interessante – para mim, pelo menos – não é a história em si e nem mesmo saber como acabam as disputas judiciais. É entender o que move esta geração tão familiarizada com tecnologia e máquinas, mas tão pragmática e antissocial.

A julgar pelas pistas dadas pelo filme, o que move a juventude 2.0 é o de sempre (mudam os “brinquedos”, mas não os anseios adolescentes): paixão, necessidade de pertencimento, desafiar a autoridade e, no caso específico da americana, a popularidade.

Não por acaso Mark decide ampliar o alcance do Facebook para outras quatro universidades – e depois para outros países – quando percebe que sua fama de criador do site não chegou à instituição em que a ex-namorada estuda. E quando ele é reconhecido pela façanha em uma palestra de Bill Gates, parece que estamos assistindo pela enésima vez ao clichê do atacante do time de futebol da escola sendo reverenciado pelos seus seguidores – vemos isso em 99 de cada 100 filmes americanos passados no universo adolescente.

Para Mark, o sucesso do Facebook é mais do que um projeto bem sucedido. É também a vingança perfeita do nerd ainda rancoroso por nunca ter sido convidado a integrar nenhuma das seculares fraternidades de Harvard – aliás, permitam-me dizer que acho uma grande palhaçada este “sistema de castas” instituído pelas fraternidades americanas (espécies de repúblicas cujos membros passam por severos critérios de seleção e cuja participação confere status social, tão alto quanto mais tradicional ela for).

E vamos combinar que comparecer a audiências disciplinares ou reuniões empresariais trajando moletom e chinelos, sem o menor respeito pelo protocolo, não é algo muito diferente do que milhares de adolescentes já fizeram antes para desafiar todo tipo de autoridade constituída.

Saber que as motivações dos adolescentes 2.0 são as mesmas de gerações anteriores já é um começo para quem tenta entendê-los e lidar com eles, mas não toda a resposta. Há que se descobrir ainda como formar o caráter de jovens com ego inflado pela sensação de poder dada pelo multi-acesso às informações, mas com sociabilidade amortecida pela falta de prática.

Eu tenho vontade de parafrasear Ziraldo: “Já pra rua ver gente, menino!