Clubes de leitura. E de afeto.

Se você não faz parte de um clube de leitura, procure um agora. É sério. Muito sério. Eu não gosto de dar conselhos. Tenho essa crença de que cada um sabe o que é melhor para si. Quem sou eu para falar “você devia fazer isso” ou “você devia fazer aquilo”? Cada um sabe onde aperta o seu calo, como dizia a minha avó. Ou a dor e a delícia de ser o que é, como disse mais poeticamente o Caetano. Receita de vida, então? Detesto. Faça assim assim assim. Assado assado assado. Sabe gente que tem receita pra tudo? Como ser uma boa mãe, como manter uma casa, como ser saudável, como ser magra, como ser bem-sucedida, como dormir bem. Afasta de mim esse cálice cheio de gente chata que acha que o mundo é o seu quintal. Também tenho a crença de que cada um, com exceção do atual presidente do Brasil, dá o melhor de si naquele momento. A pessoa já está fazendo o melhor, mesmo assim está difícil, e ainda vem alguém com a receita pronta? Tchau.
Mas mesmo assim, veja só, eu venho aqui hoje dar um conselho. Fazer um convite, podemos entender assim: que tal fazer parte de um clube de leitura? Isso: leia o mesmo livro que um grupo de pessoas está lendo e junte-se a elas para conversar sobre essa leitura. Para falar sobre as sensações e reflexões que essa leitura te gerou e, mais do que isso, para ouvir o que essa mesma leitura gerou nos outros. Nessa semana de pico, até agora, do nosso luto, da nossa agonia, do nosso medo, da nossa tristeza, eu fiquei com os olhos marejados e o coração quentinho ao terminar os dois clubes de leitura que mediei com a minha mais nova parceira. Porque também tem isso. Os clubes de leitura vão nos apresentando pessoas com quem a gente gosta de estar, de compartilhar, e ganhamos parceiros. Os clubes de leitura nos mostram que não estamos sozinhos, ainda que isolados e amedrontados.


‘Os clubes de leitura vão nos apresentando pessoas com quem a gente gosta de estar, de compartilhar, e ganhamos parceiros’


Tanta coisa que eu senti durante a leitura e não sabia nomear direito, uma leitora fez pra mim, com as palavras mais precisas que eu não conseguia encontrar. O leitor que estava quieto em casa há meses e resolveu ver o que acontecia nesses tais clubes, falou e falou e falou. E ouviu atentamente. E sorriu ao final, com o livro do próximo mês já anotado para começar logo a leitura. Teve quem não gostou do livro, sempre tem, e não gostar pode, e falar que não gostou pode, e tudo pode desde que com respeito, mas depois da conversa se prometeu ler de novo para encontrar a beleza que o outro leitor encontrou. E quem encontrou beleza ficou surpreso ao ver que outro encontrou feiura, mas não é que pode ser feio também? É que pra mim foi assim. Pra mim foi assado. E faz sentido ser assim. E faz sentido ser assado. Porque a literatura não nos dá respostas. E às nossas perguntas juntamos outras. E isso nos aproxima. E cada um dá um pouco da sua história, da sua visão, do seu pensamento, dos seus sentimentos e cada um sai com um pouco do outro do encontro. E ficar com um pouco do outro em nós é, talvez, o que pode haver de mais bonito nessa vida. Por isso que, apesar de tudo que eu escrevi lá em cima sobre conselhos e receitas, eu venho aqui me contradizer.

2 comentários

    • Luciana Gerbovic em 8 de março de 2021 às 20:17

    Oi, Matilde! Te convido a conhecer os clubes da Escrevedeira. No site escrevedeira.com.br tem uma aba “clubes de leitura” e lá tem as datas e os livros. Um abraço, Luciana

    • Matilde em 7 de março de 2021 às 15:08

    Aceito o convite. Quando posso começar?

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