Grata, Uchôa!

Quem me conhece um pouco sabe que leitura, música, filmes e séries são hábitos meus que beiram a compulsão (renuncio a noites de sono por um bom livro ou série). Já quem me conhece melhor ainda entende que tenho um único vício (com tudo o que qualquer vício tem de incontrolável e irracional): HISTÓRIAS. Mas não qualquer história. Só as bem contadas – percebam que não digo “boas” histórias porque não acredito nisso de história ruim, só em “mal narrada”.

Esse vício em “histórias bem contadas” influenciou minha vida inteira, pois me levou a escolher o jornalismo como profissão. E dentro dessa profissão, cultivo alguns ídolos que me conquistaram por seus talentos em narrá-las. Um deles soube que se despede esta semana da maior emissora aberta do Brasil pra continuar contando histórias, mas em formato de livros – pelos quais passarei a aguardar ansiosamente, como sempre o fiz em relação às suas brilhantes reportagens.

Não me lembro quando foi a primeira vez que assisti a uma reportagem de Marcos Uchôa, mas sim do encantamento que me causou. “Que texto! Que maravilhosa simbiose entre narração e imagens”, pensei. Foi como descobri que jornalismo de televisão não precisa ser essencialmente visual e que é possível usar um vocabulário rico sem ser hermético, utilizar metáforas e figuras de linguagem sem perder a clareza ou soar enfadonho!

Já admirava, então, o texto charmoso de Pedro Bial, mas Uchôa elevou a narrativa de jornalismo para TV a outro nível. Culto, sempre compartilhou com generosidade seu conhecimento com o grande público em reportagens ricas em contextualizações. Ou seja, nunca subestimou a capacidade de cognição do grande público – tenho pra mim que ele consegue se fazer entender desde por uma minoria tão culta quanto ele, até pela maioria menos escolarizada, porque é generoso o bastante pra ser tão didático quanto enciclopédico.

E como é versátil! Como correspondente estrangeiro, cobriu de guerras (sete) a Olimpíadas e Copas do Mundo de Futebol. Como repórter local, cobre com o mesmo talento um assunto urbano e um noticiário de política.

Por tudo isso me acostumei a aguardar suas reportagens e crônicas (ah… que saudades das crônicas de correspondentes do Jornal Hoje) como um fã à apresentação de um ídolo da música. Acho que sentia o mesmo prazer que eles quando me informava por suas reportagens.

Graças a Deus, Uchoa não é um talento isolado no jornalismo de TV – também cultuo outros dois, mais jovens… dois Pedros, a propósito: Bassan e Vêdova. Mas percebo que esse modelo de jornalista culto e completo, capaz de cobrir com alta qualidade qualquer assunto, não faz mais escola, ao menos na TV aberta.

Aliás, suspeito que cada vez mais o jornalismo em geral relegará grandes talentos como eles aos bastidores, e jogará  holofotes e câmeras sobre profissionais com mais informação do que conhecimento (tem diferença!), mais opinião do que clareza, mais marketing pessoal do que generosidade no compartilhamento dessas informações. Uma pena!

Por isso achei importante deixar aqui o registro deste tempo em que ainda há profissionais do mais alto quilate fazendo jornalismo de alta qualidade ao alcance das grandes massas. É um privilégio! Mas está acabando (a despedida de Uchoa é o primeiro sintoma).

Antes que seja tarde, então, quero dizer que sou muitíssimo grata, Uchôa! E fiquem firmes, Bassan e Vêdova. Vou continuar seguindo (e me encantando com) os textos de vocês.