‘Vidas que se cruzam’: culpa e redenção

É engraçado como assistir a muitos filmes nos familiariza com o “clima” da escrita de alguns roteiristas de cinema. Por exemplo, reconheci antes de confirmar a autoria de “Vida de Solteiro” que a história e os diálogos tinham o estilo de Cameron Crowe. Eu e outros milhares de fãs de Pedro Almodóvar reconhecemos de olhos vendados qualquer filme do espanhol; e podem me apresentar qualquer exemplar do cinema de Nora Ephron que reconheço rapidamente seus diálogos cheios de referências ao universo feminino.

Com “Vidas que se cruzam” (The Burning Plain, EUA, 2009) não adivinhei de cara o nome do autor, mas sorvi com familiaridade o clima melancólico da história de uma hostess de restaurante que se entrega ao sexo como a uma fuga desesperada de si mesma. Quando vi nos letreiros o nome do roteirista e diretor Guillermo Arriaga (de “21 Gramas” e “Babel”) tudo fez sentido. Mesmo quando dirigidas por outras pessoas, suas histórias se deixam reconhecer por um clima desesperançoso e pela sensação de inadequação que seus personagens nos passam, como se vagassem pela vida sem merecê-la ou sem ter nada a perder.

Charlize Theron está talentosa e linda como sempre no papel da protagonista, que parece se arrastar por uma existência vazia de afetos, à qual ela mesma se inflige como punição. Ao mesmo tempo, tentamos entender sua relação com a história em flashback de dois jovens que se aproximam após perderem os pais no mesmo incêndio do trailer onde se encontravam clandestinamente – o pai dele era amante da mãe dela.

Logo entenderemos que é de culpa que se trata esta história.

Mas nem tudo é desesperança no cinema de Arriaga, pois o passado vai bater à porta desta mulher com a oferta de uma oportunidade de redenção. Se ela vai agarrar a oportunidade ou bater a porta na cara de seu passado, só assistindo para descobrir.