A Vila: metáforas do medo

Note Jesse Eisenberg, de ‘A Rede Social’, jovenzinho fazendo figuração (na ponta da mesa, à direita)

Como ocorre com livros que volta-e-meia releio, também tenho meus “filmes de cabeceira”, aos quais recorro sempre que quero reviver uma deliciosa experiência. São produções que continuam a me emocionar não importando há quanto tempo as cultue, assistindo de tempos em tempos pra checar se continuam a tocar a nova pessoa que me torno a cada fase.

Entre os títulos que nunca me decepcionam está “A Vila” (The Village, EUA, 2004), do cineasta de ascendência indiana M. Night Shyamalan (de “O Sexto Sentido”). Repleto de signos e subtextos, o filme me encanta em diferentes níveis, começando pela história misteriosa, que se passa em uma comunidade rústica, fisicamente isolada da civilização pelos limites de uma floresta. Quando a morte de uma criança por falta de remédio arrasa uma das famílias, um dos moradores jovens (Joaquim Phoenix) se oferece para atravessar a floresta e buscar medicamentos em outra cidade, mas é desautorizado pelo Conselho de Anciãos. Em seguida, uma série de episódios estranhos vão tecendo uma teia de mistérios que parecem ter relação com segredos guardados pelos mais velhos.

O elenco de peso é encabeçado por William Hurt e Sigourney Weaver, no núcleo mais velhos, e abrilhantado por Joaquin Phoenix, Adrien Brody e Bryce Dallas Howard na ala mais jovem – interessante notar Jesse Eisenberg (Mark Zuckerberg em “A Rede Social”) jovenzinho fazendo figuração.

Dallas Howard fez sua estreia no cinema com este papel de uma garota cega, filha do líder da comunidade (Hurt). Sua personagem, aliás, é a mais evidente metáfora do filme, com sua forma de “ver” o que ninguém mais nota. Será ela a desafiar a ordem estabelecida na comunidade pelo medo, sentimento presente por todo o roteiro e que leva à sua mais importante reflexão: a inutilidade de se tentar fugir do sofrimento e da maldade, que são inerentes ao ser humano.

Shyamalan rumina didaticamente esta simples e tão evitada verdade por todo o filme – não por acaso lançado três anos após o fatídico 11 de setembro, portanto no auge da “paranoia do terror” semeada entre os norte-americanos.

Por fim, destaco a forma sutil e romântica com que o amor é reconhecido e sugerido em algumas cenas, por mais de um par romântico, um deles inconfessável.

Não comentarei outras metáforas identificadas para não comprometer a experiência de quem ainda não o assistiu. Vale muito a pena!