‘Bastardos inglórios’ é Tarantino em grande forma

Confesso que relutei por muito tempo em assistir “Bastardos Inglórios” (Inglorious Basterds, EUA/ALE, 2009) e que, não fosse ele um dos candidatos ao Oscar de Melhor Filme de 2010, provavelmente não me daria ao trabalho – como não me dei até hoje ao de ver  “Kill Bill volumes 1 e 2“. A razão é a mesma para os três: me incomoda violência gratuita.

Antes que cinéfilos de todo o mundo me taquem pedras, esclareço que também enalteço todas as qualidades do cinema do diretor Quentin Tarantino. A ver: originalidade, ironia inteligente e um humor completamente fora dos padrões, que quase beira o absurdo, mas diverte (às vezes até demais!). São grandes qualidades numa indústria cada vez mais atada a roteiros-fórmula. Só tenho problema com o fato do diretor usar a violência como estética – jorros de sangue, pedaços de pessoas e assassinatos filmados de forma banal, como se não fossem nada demais e ainda provocando risadas.

Feita esta única ressalva, tenho que admitir que “Bastardos Inglórios” reúne todas as melhores qualidades do selo Taranti na no, potencializadas aqui pela participação do astro Brad Pitt – em atuação acima da média, registre-se – e pela interpretação simplesmente fantástica do austríaco Christoph Waltz. Se o filme não tivesse outras qualidades, só sua atuação magnética seria motivo suficiente para assisti-lo. Ele mereceu o Globo de Ouro e o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo papel de um investigador da SS (a polícia militar nazista) que caça judeus.

“Bastardos…” é a história dos feitos de um pelotão fictício de soldados americanos judeus com a missão de matar o máximo de nazistas que conseguirem.  É brilhantemente contada, em cenas longas e tensas, como a de Waltz interrogando um rancheiro que tem uma família judia escondida sob o assoalho. Ou a de um grupo de resistentes disfarçados de alemães em conversa de “gato e rato” com um oficial da Gestapo em um bar-porão de Paris. São de prender a respiração!

A última parte do roteiro é uma obra-prima de arquitetura narrativa. A violência gratuita e “engraçada” de Tarantino (infelizmente para mim) também está lá. A ressalva positiva é a de também ter revelado para o cinema ocidental a francesinha Mélanie Laurent e o alemão Michael Fassbender. Tarantino sabe reunir – e retirar o melhor de – talentos!