‘Estão Todos Bem’: simplesmente adorável!

Confesso que tenho um certo preconceito com versões americanizadas de filmes de outros países. Mas o diretor Kirk Jones saiu-se muito bem ao adaptar “Estão Todos Bem” (Everybody’s Fine, EUA, 2009), baseado no italiano “Stano tutti bene” (ITA, 1990), de Giuseppe Tornatore (“Cinema Paradiso”).

É verdade que o roteiro perdeu  sutilezas e algum mistério em relação ao original (americanos não resistem a entregar tudo “mastigadinho” ao espectador), mas, em compensação, nos brinda com uma atuação nada usual de Robert De Niro, como um pai terno, daqueles que a gente quer pegar no colo. É a melhor coisa do filme!

De Niro assume o papel que foi de Marcelo Mastroianni no original italiano. Como o viúvo Frank (Francesco no  original),  decide contrariar conselhos médicos para embarcar numa longa viagem pelo país para ver os quatro filhos adultos, estabelecidos cada um em uma cidade diferente. É que pela primeira vez em muito tempo todos avisam, em cima da hora, que não passarão o Natal com ele.

É de  uma tremenda ternura ver o personagem preparar a casa e fazer compras para receber os filhos; depois juntar pertences e remédios para sair pelo mundo atrás deles e, durante a viagem, impor seu orgulho a qualquer estranho desavisado que abra uma brecha pra ele falar da prole.

De Niro confere ao personagem uma fragilidade e uma ternura que julguei impensáveis em um ator acostumado a contorcer-se em caretas e grunhidos de personagens os mais truculentos (policiais, mafiosos, boxeador, assassino, psicopata… a lista é grande). Reparem na dignidade com que incomoda o ritmo frenético das cidades grandes para registrar lembranças em uma câmera antiga, que ainda usa filmes fotográficos. Faz a gente pensar sobre quão pouca importância damos às coisas simples, ao parar para olhar o mundo e o outro, em meio a tanta velocidade que nos é exigida no cotidiano.

Simplesmente adorável!