Bravo, Aronofsky!

Mais de um mito clássico e teorias psicanalíticas já concluíram que todos temos dentro de nós a luz e as trevas… e que prevalece em nosso caráter a porção que escolhemos alimentar. É dessa dicotomia que trata “Cisne Negro”, ótimo suspense psicológico do diretor Darren Aronofsky que deu o primeiro Oscar de Melhor Atriz a Natalie Portman (mereceu!).

No papel da bailarina Nina, ela vive com uma mãe dominadora (Bárbara Hershey cheia de plásticas e botox), que claramente procura espelhar na filha seu desejo inalcançado de sucesso na carreira. De técnica irretocável, Nina seria a escolha óbvia para a personagem principal do clássico balé de repertório “O Lago dos Cisnes“, que sua companhia começará a montar. Mas, segundo o diretor artístico, Tomás (o francês Vincent Cassel), seu temperamento enrustido a impediria de convencer nos dois papéis exigidos da protagonista no espetáculo: o da princesa transformada em cisne branco, e o de sua irmã gêmea (a cisne negro), que seduz seu amado.

Uma reação impulsiva a um assédio, porém, faz o diretor finalmente apostar em Nina, que passa a ser muito exigida durante os ensaios. A pressão psicológica desperta alucinações, que dão pistas sobre as sombras que Nina traz dentro de si e tem tanto medo de encarar ou dar vazão, como se vivesse amedrontada pelo fantasma de si mesma.

O diretor Aronofsky – que fez aflorar a fragilidade em Hugh Jackman no belíssimo “A Fonte da Vida” e talento interpretativo de Mickey Rourke em “O Lutador” – tira de Natalie Portman a melhor atuação de sua carreira até aquele momento. E não digo isso por ser ela (e não uma dublê) quem dança em muitas das cenas de balé clássico do longa. Prestem atenção nas expressões que seu rosto assume depois que um ato extremo deixa aflorar seu “cisne negro”.

Também plasticamente o filme é lindo! Algumas cenas de balé – particularmente uma em que Natalie vai transformando-se em cisne negro em pleno palco – são de uma poesia visual arrebatadora. O diretor consegue fazer um filme introspectivo e grandioso ao mesmo tempo. Não é pouco,

Bravo, Aronofsky!