Elizabeth Taylor: divindade de olhos violeta

E ainda pregam que deuses são imortais.

A divindade encarnada em Elizabeth Taylor deu seu último suspiro humano neste dia 23 de março de 2011… ainda não consigo me conformar com o fato de que este ícone da Hollywood que amo se foi.

Os jornais vomitam biografias ricas em escândalos conjugais, que ela soube colecionar como ninguém em seus oito casamentos (e vários affairs no meio). Mas a divindade que sempre venerei em Elisabeth Taylor foi a atriz, maior ainda do que sua escancarada beleza, em minha muito parcial opinião de fã.

Workaholic, Liz estrelou a marca impressionante de 70 filmes em 79 anos de vida (até se aposentar do cinema, na década de 1990, jamais passou um ano inteiro sem trabalhar), alguns dos quais figuram na galeria de títulos que marcaram minha memória afetiva. Outros tantos, porém, sequer conheço ainda, pela dificuldade de acesso à sua filmografia completa.

Aprendi a reconhecer Elisabeth Taylor em inúmeros títulos da “deliciosa” Hollywood de entre as décadas de 1940 e 60, antes mesmo de entrar no ensino primário, nas Sessões da Tarde das décadas de 1970 – saudoso período em que a Globo exibia “classicões” do grande cinema de todos os tempos.

Eu a via em suas várias idades em completa desordem cronológica, à mercê da programação: adulta e sensualíssima em “Gata em teto de zinco quente”, por exemplo, muito antes de reconhecê-la menina e ingenuazinha em “A Coragem de Lassie” e “A Mocidade é assim mesmo”.

(Photo by Sunset Boulevard/Corbis via Getty Images)

Lembro-me de me perguntar como os demais personagens tratavam como uma pessoa comum aquela deusa de olhos violeta brilhantes – de gata -, traços perfeitos e boca de coração… Achava Paul Newman um idiota por esnobá-la em “Gata…“, que assisti pela primeira vez antes de entender, com meu limitado repertório infantil, que eram sexuais as investidas que ele recusava.

Também a vi adolescente em “Quatro destinos”, décadas antes de descobrir que tratava-se de versão cinematográfica do clássico literário “Mulherzinhas”, de Louisa May Alcott, uma das muitas descobertas literárias às quais cheguei por meio do cinema.

Mais velha, pude entender a complexidade do roteiro de “O Pecado de todos nós” (Reflections in a Golden Eye): Liz corajosamente nua sobre um cavalo, tentando provocar a libido de dois homens – um deles Marlon Brando, lindo e louro, no auge do talento e da forma física… a razão da frieza de seu personagem para com a esposa fogosa a maior e retumbante surpresa do filme! O roteiro tinha aquele componente caro ao dramaturgo TennesseWilliams (apesar deste filme não ter assinatura dele) de mostrar claramente sem dizer de fato.

Em “Assim Caminha a Humanidade”, Liz segurava cenas tensas com o talentosíssimo James Dean e conseguia aparecer tanto quanto o gigante Rock Hudson – ela uma “tampinha” peituda e sem bunda, mas com curvas que sabia valorizar.

E foram muitos os clássicos com seu nome na ficha técnica. Por dois deles –“Disque Butterfly 8”, um conto de fadas amargo, e “Quem tem medo de Virginia Woolf”, em que conseguiram enfeiá-la para o papel principal – ganhou os dois únicos Oscars da carreira. Mereceu estes e outros que não ganhou, como para seus papéis em “De repente, no último verão” – ela vulnerável e psicologicamente traumatizada como a sobrinha que uma tia calculista queria lobotomizada; em “Adeus às ilusões”, como uma mãe liberal e pensadora que seduz o diretor de uma escola católica para garotos; sem falar no já citado “Gata em teto…” – ela derramando sensualidade para reconquistar o marido alcoólatra e a preferência do sogro moribundo.

Como sabia escolher bem seus filmes!!!

Pensando bem, os deuses devem ser mesmo imortais, pois a Liz Taylor que conheci continua por aí, naqueles filmes que embalaram uma vida inteira de enlevos cinematográficos. Devota que sou, cultuarei para sempre o glamour da Hollywood que ela representou.