‘Deus da Carnificina’: a violência nas palavras

“Deus da Carnificina”, de Roman Polanski, lembrou-me em vários momentos o clássico “Anjo Exterminador”, com seus personagens despedindo-se o tempo todo, mas voltando sempre para a mesma sala, como se prisioneiros de uma força invisível. Também como no clássico de Luís Buñuel, as personagens, representantes de uma elite abastada, vão despindo-se gradativamente do verniz de civilidade à medida que medem forças.
Só que a arena de Polanski é outra. Em vez de uma mansão lotada de burgueses, temos a sala de um apartamento de classe média alta na qual se encontram quatro personagens: os casais formados por Penelope (Jodie Foster e John C. Reilly) e Michael e Nancy e Alan Cowan (Kate Winslet e Christoph Waltz). Motivo: uma conciliação entre pais, após o filho de um ter agredido violentamente o de outro.
O roteiro de Yasmina Reza – mesma autora da peça que deu origem ao filme – mantém toda a ação entre as quatro paredes e sustentada essencialmente sobre os diálogos entre os dois casais.
A cortesia claramente forçada que os quatro encenam no início vai se esgarçando bem aos poucos, conforme um personagem pega a “deixa” de uma insinuação de outro. Os temas das discussões mudam o tempo todo, bem como as configurações de enfrentamento, ora casal x casal, ora maridos x mulheres – a certa altura com a ajuda libertadora de um whisky escocês 18 anos.
O desafio do espectador é conseguir assistir a tudo sem se questionar se, no lugar de qualquer um deles, conseguiria manter a compostura. Os diálogos mostram como a palavra pode ser tão agressiva quanto ações físicas.

Kate Winslet, Jodie Foster, John C, Reily e Christoph Waltz em ‘Deus Da Carnificina’

“Deus da Carnificina”, de Roman Polanski, lembrou-me em vários momentos o clássico “Anjo Exterminador”, com seus personagens despedindo-se o tempo todo, mas voltando sempre para a mesma sala, como se prisioneiros de uma força invisível. Também como no clássico de Luís Buñuel, as personagens, representantes de uma elite abastada, vão despindo-se gradativamente do verniz de civilidade à medida que medem forças.

Só que a arena de Polanski é outra. Em vez de uma mansão lotada de burgueses, temos a sala de um apartamento de classe média alta na qual se encontram quatro personagens: os casais formados por Penelope e Michael (Jodie Foster e John C. Reilly) e Nancy e Alan Cowan (Kate Winslet e Christoph Waltz). Motivo: uma conciliação entre pais, após o filho de um ter agredido violentamente o de outro.

O roteiro de Yasmina Reza – mesma autora da peça que deu origem ao filme – mantém toda a ação entre as quatro paredes e sustentada essencialmente sobre os diálogos entre os dois casais.

A cortesia claramente forçada que os quatro encenam no início vai se esgarçando bem aos poucos, conforme um personagem pega a “deixa” de uma insinuação de outro. Os temas das discussões mudam o tempo todo, bem como as configurações de enfrentamento, ora casal x casal, ora maridos x mulheres – a certa altura com a ajuda libertadora de um whisky escocês 18 anos.

O desafio do espectador é conseguir assistir a tudo sem se questionar se, no lugar de qualquer um deles, conseguiria manter a compostura. Os diálogos mostram como a palavra pode ser tão agressiva quanto ações físicas.