‘Em Um Mundo Melhor’: os efeitos da raiva

Pense no que pode haver em comum entre uma invernal e limpa cidade dinamarquesa e uma solar e empoeirada vila africana.

No dinamarquês “Em Um Mundo Melhor” – vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2011 – há mais de um ponto a ligá-los: o primeiro, o médico Anton, em missão humanitária no Quênia, mas sediado com a família na Dinamarca; o segundo e mais gritante, a violência – ora desencadeada pela raiva, ora desencadeadora dela.

A raiva move as ações do garoto Christian, que acaba de chegar com o pai de Londres, onde perdeu a mãe para o câncer. Na escola, logo faz amizade com Elias, filho de Anton, que só é deixado em paz pelo valentão de plantão após o novo colega providenciar um “corretivo” à altura para o bullyer.

Pacifista, Anton recusa-se a revidar agressões que um outro pai lhe faz na frente das crianças. Tenta convencer os filhos – sem muito sucesso – de que o grosseirão é um “idiota” e que violência não se deve reproduzir.

A mesma incompreensão cerca o médico quando ele trata o “chefão” da vila queniana, que pratica toda sorte de violência contra a população – inclusive estuprar e esfaquear meninas, que o médico esforça-se para salvar em improvisadas cirurgias de emergência.

Tanto a temperança de Anton quanto a raiva de Christian serão testadas no devido tempo, confrontando-os com questões como: “até onde ir por vingança? Até que ponto resistir a ela?”.

Cada um em um cenário faz sua própria escolha, cujas consequências lhes cobram um alto preço da consciência. Mas mesmo a culpa carrega seu teor de ensinamento – ao menos neste filme de Susanne Bier.