‘As Vantagens de Ser Invisível’: adoráveis desajustados

O talento de Emma “Hermione” Watson, da série Harry Potter, dispensa comentários. Já quem arrepiou-se com a interpretação de jovem psicopata de Ezra Miller em “Precisamos Falar Sobre Kevin” ou achou que Logan Lerman só sabe interpretar personagens confiantes e carismáticos como Percy Jackson e D’artagnan (“Os Três Mosqueteiros”, 2011) vai se surpreender – e muito – ao ver ambos em “As Vantagens de Ser Invisível” (The Perks of Being a Wallflower, 2012). O filme faz carreira humilde no cinema e nas plataformas de streaming, talvez por não seguir a receitinha manjada de dramas adolescentes, mas se você der uma chance a esta história, não vai se arrepender.

Ezra está adorável no papel de um adolescente homossexual e Lerman muito convincente na pele do introspectivo Charlie, que ingressa no Ensino Médio com passe livre para o time dos desajustados. Conhecer a dupla de meio-irmãos formada por Patrick (Ezra) e Sam (Emma) insere o garoto no grupo dos “wallflowers” – espécie de outsiders do bem. Os dois veteranos e sua turma apresentam o calouro às primeiras transgressões da juventude, como comer um brownie batizado com maconha ou experimentar alucinógeno. Nada comparado, porém, à paixão que Charlie passa a sentir por Sam, jovem de espírito libertário que, mesmo linda e doce, relaciona-se com caras que nunca lhe dão o devido valor.

Mas “As Vantagens de Ser Invisível” é mais do que aquelas manjadas histórias de ritos de passagem da adolescência e primeiros amores. Está longe de ser banal. A sutil vigilância da família e as cartas que Charlie escreve a um amigo imaginário dão pistas de que sua introspecção encobre cicatrizes de algum trauma recente, do qual só entendemos a gravidade ao final.

Lerman dá show de interpretação ao passar toda a fragilidade e insegurança de um adolescente que não consegue entender o que se passa na própria cabeça. Até o tom da sua voz muda completamente para o papel.

A trama é ambientada no início da década de 90, por isso a trilha sonora inclui o que de melhor tocava nas rádios da época. É engraçado assistir aos jovens trocarem fitas cassete com seleções de música que gravam em aparelhos 3 em 1, hoje peças de museu. 

Mas o melhor do filme é a ternura com que os amigos se relacionam e se apoiam em suas decepções e dramas.

Em uma palavra: adorável!