Joana, que é como Patrícia, que fez como Ana

* DANIELA ANTUNES

Patrícia conheceu Josivaldo aos 13 anos. Aos 14, pegou barriga. Josivaldo era mais velho, sabia o que era criar um filho, coisa de boneca para a menina – poderia ter brincado mais de mamãe e filhinha antes de pular para o papai e mamãe.

Ela ficou sozinha. Para a família, sabia muito bem o que estava fazendo. Deixou a escola e passou a cuidar a seu modo da criança, a quem deu o nome de Joana.

Agora, é Joana quem tem 14 anos. Já não mora com a mãe e os três irmãos que nasceram depois dela. Aliás, nenhum deles mora com Patrícia, que vai parir pela quinta vez sem nunca ter dado conta nem da primeira cria. Esta, a Joana, saiu de casa faz tempo. Vive com o marido de 49 anos.

Patrícia mora de favor, na casa de uma amiga de sua mãe, a Valdete.

Valdete vive com sua companheira (e Patrícia, grávida, como hóspede). Bate no peito e diz orgulhosa que tem a guarda definitiva de uma das crianças que Patrícia colocou no mundo em 15 anos de gestações bem-sucedidas e não-planejadas.

O menino, “tudo para mim”, ela garante, mora com a mãe de Valdete, em uma pequena cidade da região. O moleque, garante, é a “vida” dela, uma paixão mesmo. Valdete mira agora no novo bebê de Patrícia. Está providenciando a papelada da guarda. Ela e a companheira querem a criança a todo custo. Está feliz, emprenhada em construir família.

E então, discursa:

“Eu acho que para colocar criança no mundo a pessoa tem que ter estrutura. Eu, por exemplo, tenho meu carro, meu serviço, minha casa, que é alugada, mas eu pago, então é minha. Eu vou ver laqueadura para ela [a Patrícia] porque não pode ficar botando filho assim no mundo não”.

A plateia encostada no balcão, assente com a cabeça, esperando o próximo ato.

“E você e sua companheira concordam nessa questão da adoção, de constituir família?” – pergunta alguém da assistência.

Valdete mata no peito: “Agora vou ver esse negócio da criança [a guarda]. Eu e a minha companheira queremos muito. Primeiro vou organizar isso. Meu sonho é ser mãe, eu sempre quis. Então tenho o moleque, vou pegar esse outro e já estou fazendo um orçamento para ver quanto custa a inseminação, porque eu quero ter um meu”.

A plateia assentiu. Atônita, mas encerrou a prosa.

PS1: Joana também está grávida do primeiro filho. A plateia protestou, falou que era estupro presumido. Valdete franziu a testa, afrouxou o lábio, baixou o queixo e botou a mão na cintura: “ah, é nada, ela sabe o que ela quer, ela que quis, não tem nada de estupro ali não”.

PS 2: A mãe de Patrícia também teve o primeiro filho aos 15 anos.

PS 3: Os nomes são fictícios, os fatos são reais. Reais até demais.

 

(*) Daniela Antunes é jornalista, exímia assessora de imprensa e uma das pessoas
mais espirituosas que conheço


 

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