O bailinho estava animado. Um daqueles bailinhos de estudantes, quando ainda não nos dávamos conta de que a ditadura iria nos engolir. Adolescentes, éramos nós. Daquela vez o arrasta-pé foi na quadra de esportes de uma faculdade. Fui com algumas amigas e estávamos naquela fase bonita do despertar para o amor, o romantismo, o toque, o contato com o sexo oposto. Bem, havia também quem quisesse contato com o mesmo sexo – isso não muda, mas não era esse o caso.
Eu usava vestido tubinho acima do joelho, scarpin, rabo de cavalo e franja. Estava me achando. Os rapazes ficavam de um lado e as garotas, de outro da pista. Então, nós, as meninas, esperávamos um sinal do bonitão e íamos ao encontro, ou ele chegava mais perto. Só sei que era bom: twist, rock e músicas lentas para momentos mais aconchegantes.
Costumávamos dançar até às onze da noite e íamos para casa comentando sobre tudo o que aconteceu: o mais bonito, o mais atrevidinho, roupas, cabelo, etc. Alguém sempre voltava acompanhada, e o casal caminhava na calçada oposta, um pouco mais atrás para preservar a intimidade de alguns beijos inocentes.
Segurar na mão era o máximo, mão no ombro, então!!
Bem, voltemos ao bailinho. Já disse que estava eu me achando o máximo naquele vestido tubinho e de batom rosa-chá. Então, um lindo, mas muito lindo rapaz fez o esperado sinal. Não hesitei nenhum segundo e caminhei segura em direção à pista.
Mas, ele passou direto. O sinal era para outra garota que estava logo atrás de mim.
A vergonha!
Fiquei parada no meio da pista, sem saber se voltava ou se continuava, disfarçando, como se eu estivesse apenas atravessando de um lado para o outro.
Resultado: fui direto para o banheiro, onde permaneci um longo tempo até criar coragem e sair de fininho, rezando para ninguém me ver.
Nunca mais voltei lá. Bobagem, podem estar pensando? É, pode ser. Mas vai dizer isso para uma adolescente!!
A jornalista e escritora Matilde Leone publica sua crônica na seção “Delírios de Matilde” sempre às sextas-feiras.