Um (lindo) Conto Chinês

Desde que o assisti em “O Segredo dos seus Olhos”, procuro ver todos os filmes com Ricardo Darín de que tenho notícia. No último sábado, foi a vez de encantar-me com “Um Conto Chinês” (Um Cuento Chino), com roteiro e direção do espanhol Sebastián Borensztein e atuação coadjuvante de Ignacio Huang – o mestiço com o olhar mais doce que já vi em uma tela.

Darín é Roberto, o proprietário recluso e mal humorado de uma loja de ferragens na periferia de Buenos Aires (Argentina. Ele que tem como passatempos colecionar notícias de tragédias absurdas publicadas em jornais e miniaturas de cristal ofertadas à memória da mãe falecida. Um dia, o acaso o leva a acolher em sua casa um chinês que chega à cidade à procura de seu único parente vivo, mas descobre que ele não mora mais no mesmo endereço.

Enquanto aguardam a embaixada chinesa localizar o tio de Jun, estabelece-se uma amizade estabanada entre o chinês que não fala uma palavra de espanhol e o argentino que não entende nada de mandarim, que no início  sente-se muito incomodado com aquela interferência em seu cotidiano sempre igual. Acabaremos descobrindo que ambos sofreram perdas trágicas em suas vidas, das quais tentam emergir e sobreviver de formas diametralmente opostas.

Quando o tão desejado encontro do tio de Jun acontece, a cena em que os parentes se reconhecem por telefone não tem o menor recurso cênico, mas a voz dolorida do chinês é suficiente para arrancar lágrimas, mesmo sem entendermos mandarim.

Jun se vai, mas não sem antes deixar uma mensagem sem palavras para o ermitão. Claro que não vou entregar que mensagem é esta. Basta saber que ela funciona como uma pancada, que acorda Roberto para o que está abrindo mão por puro medo de se expôr à vida e que é de uma sutileza e um simbolismo arrebatadores.