Se você também acha impensável um filme cujo protagonista tem câncer não encaixar-se na categoria drama, precisa assistir a “50%” (50/50). Apesar de a doença estar presente por toda a narrativa, não há uma cena lacrimejante no filme assinado pelo jovem diretor Jonathan Levine. Aliás, bem ao contrário…
Com Seth Rogen e a talentosa Anna Kendrick no elenco, o filme tem ótimos momentos de comédia e ensaia algum romance, mas não assume nem uma coisa nem outra. A falta de rótulos, porém, não faz nenhum mal à narrativa e até garante um frescor de originalidade ao roteiro de Will Reiser.
“50%” é mais a história de como o jovem jornalista Adam (Joseph Gordon-Levitt), de 20 e poucos anos, aprende a enxergar e a valorizar seus verdadeiros afetos quando é confrontado com a descoberta de que tem um câncer na coluna – o título refere-se à probabilidade de Adam sair do tratamento com vida. Não fosse a doença, ele não enxergaria a superficialidade de seu relacionamento com a artista plástica Rachael (Bryce Dallas-Howard), nem a força da amizade do colega de trabalho Kyle – à primeira vista um brucutu sem profundidade – e ainda perderia muitos anos fugindo do afeto super-protetor, mas genuíno, da mãe (Angelica Huston).
Gosto de pensar que a leveza com que o filme aborda um tema tão espinhoso seja uma armadilha do roteirista para fisgar a atenção das gerações Y e Z – tão superconectadas à tecnologia e desconectada dos afetos – para o que realmente importa na vida. Torço para que esta geração individualista e meio egocêntrica entenda o recado.