Ontem vi uma nesguinha de mundo pelos vãos da janela da ambulância. No caminho do primeiro retorno ao médico após a alta, dei-me conta de que não saia para o sol há 37 dias.
Nada demais pra quem ficou feliz só de conquistar o direito a usar as cadeiras de banho e de rodas, após 21 dias de comadres e banhos de leito.
Tentei esquadrinhar o caminho, adivinhar as ruas, intuir as mudanças que perdi da cidade, mas tudo que consegui foi ver tiras de edifícios correndo de mim.
Além do mais, tenho pouca memória de como eram essas paisagens, correndo que passava por elas nos meus trajetos apressados e introspecções.
Mas deixe estar. Quando voltar a pisar o chão – após mais 30 dias de carga zero nas pernas, a contar de hoje, sentenciou o médico – eu é que correrei por essas ruas armazenando panorâmicas da cidade na memória.
E nunca mais deixarei de notar o mundo.
ago 13 2016