Uma vez, assistindo na TV a um encontro de bandas brasileiras de rock dos anos 1980, ouvi de Paula Toller (ex-Kid Abelha) a expressão “amor de turma”, referindo-se ao sentimento que unia todos os músicos ali. Nunca mais esqueci, até porque ela volta à minha memória toda vez que me reencontro com um repertório de rock daquela época.
No último 4 de agosto a expressão me voltou enquanto eu ouvia a banda 33, de Ribeirão Preto, e depois o Ira! (com os remanescentes Nasi e Scandurra), no Invicta Nocaute Festival, evento de fábrica de cerveja artesanal de minha cidade.
Nasi continua desafinado e Scandurra arrasando na guitarra, que ele ainda toca invertida, porque canhoto (feríssima!).
Ainda é o Ira! E o “amor de turma” estava lá.
Mas os melhores momentos foram com a banda 33, do “Gordo” (que é bem magro, na verdade…rs), baixista da minha época de faculdade, que eu não assistia há uns 20 anos, pelo menos. Ele já curtia rock naqueles tempos. Pelo repertório da sua 33, ainda curte os mesmos de então… os mesmos que eu, que todos nós naqueles anos de poetas jovens, bem letrados e idealistas, do quilate de Renato Russo, Herbert Vianna, Cazuza…
“Disciplina é liberdade / Compaixão é fortaleza / Ter bondade é ter coragem”
“We will… we will rock you!”
“Se eu tô alegre eu ponho os óculos e vejo tudo bem…”
“See the stone set in your eyes / See the thorn twist in your side / I’ ll wait for you…”
“Migalhas dormidas do teu pão / raspas e restos me interessam”
Gordo é irmão do “Véio” (Evandro Navarro), também músico, mas mais da MPB. Família abençoada deve ser esta, de gente que faz música com competência e brilho nos olhos.
Que bonito ver pessoas que não deixaram o tempo e as demandas da sobrevivência traírem suas vocações, que fazem de uma paixão seu projeto de vida!
Bom demais ver que o Gordo, grisalho (cinquentão?), ainda se arrepia cantando músicas de nossa época! Na “saideira”, com o público todo cantando à capela “Pais & Filhos”, do Legião, mostrou tatuagens nos dois braços. Entendi que deviam ser os nomes dos filhos (acertei, Véio?).
“Você culpa seu pais por tudo / Isso é absurdo / são crianças como você / o que você vai ser quando você crescer…”
Ave, música!
Valeu, Gordo!
Beijo, Véio!
“É nóis”!