Já havia citado em minha postagem sobre o ótimo “Quem quer ser um milionário” que o encontro entre Bollywood (o cinema de entretenimento indiano) e o cinema ocidental não é tão novidade assim. Para provar, relaciono abaixo quatro filmes nos quais a “paquera” entre a cultura indiana e o cinema ocidental resultaram em ótimo entretenimento (em minha opinião, claro).
“Driblando o destino”, de 2003, tem produção e atores ingleses, mas o roteiro e a direção são assinados por indianos – ou descendentes deles. Sua maior curiosidade é trazer três atores à época ainda pouco festejados, mas que se tornariam, em poucos anos, verdadeiros “queridinhos da indústria”: Keyra Knightley – ainda na puberdade, aparece aqui de aparelhos nos dentes em um papel secundário; Pasminder Nagra, que viria a interpretar a médica Neela Rasgotra do seriado E.R. (“Plantão Médico” no Brasil); e Jonathan Rhys Meyers (de “Ponto Final – Match Point” e “O Som do Coração”) que à época nem sonhava em ser escalado como protagonista em um filme de Woody Allen.
No filme, a personagem principal é a adolescente Jesminder, filha de uma família indiana radicada em Londres que faz questão de seguir, em seu pequeno e fechado círculo social, os mesmos costumes tradicionais do país natal. Isso tem um custo alto para as filhas, divididas entre a obediência aos pais e a atração exercida pelos costumes mais liberais do país em que cresceram.
Jane Austen na Índia
No ano seguinte, a mesma diretora de “Driblando o destino”, Gurinder Chadha, assinaria uma adaptação “bollywoodiana” do clássico de Jane Austen “Orgulho e Preconceito”. Sob o título de “A Noiva e o Preconceito”, a co-produção anglo-americana resultou em um misto DIVERTIDÍSSIMO de comédia romântica e musical.
A história, quem curte Jane Austen -o u todas as adaptações cinematográficas já feitas de seus livros – já conhece bem: dois amigos ricos chegam à cidade e viram alvo de uma mãe ávida para casar algumas das suas quatro filhas solteiras. No caso de “A Noiva e o Preconceito”, a cidade é Nova Delhi, capital da Índia, e os amigos dois advogados – um americano e o outro indiano em férias no país natal .
A atriz indiana Aishwarya Raí foi descoberta pelo cinema ocidental neste filme e voltou a protagonizar outra produção anglo-americana com um pé na Índia no ano seguinte: “O Sabor da Magia” (“The Mistress of Spieces”), em que Gurinder Chadha assina a coprodução. A direção ficou a cargo do desconhecido Paul Mayeda Berges. Neste romance Aishwarya interpreta Tilo, dona de uma loja de especiarias em São Francisco (EUA) que possui o dom mágico de transformar seus ingredientes em poções para curar as pessoas. Porém, ela só mantém o dom se mantiver-se fiel às regras sagradas de nunca provar alguma de suas receitas ou se apaixonar, o que, claro, vai acontecer!
A força das raízes
“Nome de família”, da indiana Mira Nair, é o único drama desta lista. Sensível, mostra o esforli de um casal indiano para se adaptar aos Estados Unidos sem abrir mão de sua identidade indiana. Em sua segunda parte, o filme enfoca a segunda geração pelos olhos do filho mais velho, Gogol. Sentindo-se mais americano do que indiano, o jovem tenta encontrar a própria identidade enquanto lida com as tradições de sua família e toda a influência externa da cultura americana.
O que todos esses filmes têm em comum, além de uma pequena amostra dos costumes e cultura indianos, é um modo de filmar bem diferente do modelo hollywoodiano. As histórias são leves, o ritmo mais lento, porém nem um pouco enfadonho, o que para mim foi um convite à contemplação.
Para os momentos que só precisamos sair um pouco da realidade .