Crônica do dia de Ano Novo

* CÁSSIO BIDA

Em uma passeada pelas redes, li de de uma amiga uma história que me tocou bastante. Sobre uma estrela solitária que brilhava enquanto ela caminhava à noite e as sensações dela naquele momento. Nesta virada de ano aconteceu algo parecido comigo.

Saí de casa rumo a uma balada. A ideia era festejar, celebrar a virada de mais um ano e curtir a noite o máximo possível. Como se tornou hábito nos últimos cinco anos, a celebração da passagem de ano é um evento meu comigo mesmo. Guardo várias histórias dessas viradas. Mas esta, talvez, seja a a mais interessante.

Peguei a condução. Estava lá somente o motorista, eu e mais um passageiro. Como de costume, sentei mais ao fundo e esperei o ponto certo para descer. Agradeci ao motorista e desejei a ele e ao outro passageiro Boas Entradas, Feliz Ano Novo.

Havia ainda algumas nuvens no céu. A lua, teimosa, brilhava por entre as nuvens que, horas antes, haviam despejado uma chuva inclemente.

Para uns, a tristeza de um ano espetacular que se despedia. Para tantos outros, aquela que veio lavar a alma e levar tudo o que ainda restava de ruim no ano que se encerraria em, no máximo, uma hora.

Após alguns minutos de fila, consegui entrar no lugar. Uma casa pequena onde estava tocando sucessos do rock e pop nacional.

Peguei uma água. Sim, uma água. Afinal, não estava querendo encher a cara. Principalmente de estômago vazio.

E sóbrio, além de me divertir mais, conseguia observar o ambiente com mais propriedade.

Muita gente de branco. Alguns de amarelo. Outros com cores bem diferentes do usual. Todos com algum copo de bebida para brindar. Tantas presenças e, ao mesmo tempo, todos, de certo modo, ausentes.

Ninguém se animava.

Tentei puxar palmas, dançar, me agitar. Até mesmo o único abraço que troquei com alguém naquele bar pareceu frio. Embora a moça precisasse mesmo de um abraço.

Ela chamava a atenção pelo visual. Estava em um vestido tubinho branco. Curto, extremamente apertado. Não sei se ela estava à vontade no traje. Mas quando cheguei oferecendo um abraço o desconforto dela com o meu gesto, esse sim, foi nítido.

A moça foi bastante rude de início. Até grossa. Tinha acabado de chorar. Sem nenhuma maldade perguntei o que houve, se estava tudo bem. Ela disse que sentia saudades de alguém, por isso a tristeza.

Senti que não poderia me demorar muito. Logo, abri os braços. Precisava dividir com alguém a chegada de um novo ano. Com certa relutância, a moça aceitou e agradeceu a minha gentileza por perguntar o que havia acontecido. Depois disso, saí, voltei ao meu canto, dancei mais um pouco e, com cerca de 15 minutos de ano, fui embora.

Senti que minha missão ali estava cumprida.

Enquanto olhava o Uber para chamar um carro e voltar para casa, eis que, no alto da Iguaçu, surge o ônibus. Como era a última viagem dele, corri feito um maluco para chegar ao ponto. Me senti o legítimo Forrest Gump enquanto tentava, com alguma dificuldade, alcançar o ponto de embarque. O motorista, o mesmo da ida, me reconheceu e buzinou para que eu parasse a corrida. Ao entrar, logicamente, agradeci a gentileza e seguimos viagem.

Fomos papeando. Diferente da frieza curitibana no bar, o matogrossense que dirigia o Vila Rosinha era bom de prosa.

Essa troca sim foi autêntica, gostosa, sincera. Naqueles poucos minutos até em casa houve presença na conversa.

Quando desci do ônibus vi uma estrela solitária. Brilhando firme no alto apesar dos fogos que ainda estouravam de forma mais tímida. Ela estava ali para lembrar que não estamos sozinhos. E que, mesmo sozinhos, não precisamos ser solidão.

Naquela noite pude ceder um pouco de brilho a alguém.

Que em 2018 não nos deixemos intimidar por qualquer escuridão. Trovoadas e nuvens carregadas vão surgir, sim. É da vida. Faz parte! O segredo é a lição que tiramos de cada tempestade. Assim, vamos nos fortalecendo.

Um 2018 iluminado para todos nós!

 

(*) Cássio Bida
Jornalista curitibano e funcionário público, gosta de criar escrever histórias nas horas vagas.

É autor do PodCast Cartas Faladas  que desenvolveu para espalhar amor em meio à dureza do mundo.


 

Toda semana o blog traz a crônica de um(a) ‘palavreiro'(a) convidado(a). O convite é extensivo a todos que gostam de palavrear a vida em forma de crônicas.

“VEM PALAVREAR COM A GENTE!”