“Sempre tive medo de pessoas que têm certeza de tudo”.
Esta frase, que li há muitos anos, não sei em qual livro ou filme, ficou em minha memória para sempre. Hoje sei porque: as pessoas que mais temi na vida exerceram algum tipo de autoridade opressora sobre mim e este é o tipo exercido pela personagem que deu o Oscar de Melhor Atriz deste ano a Meryl Streep, no filme “Dúvida” (Doubt, EUA, 2009), de John Patrick Shanley.
A atriz interpreta (divinamente, como sempre) uma freira assustadora, que dirige com mãos de ferro um colégio religioso. Quando um dos padres professores profere em missa um sermão sob o tema “Dúvida”, ela passa a investigá-lo. Em dado momento, julga-o capaz de molestar o único garoto negro da escola, que, isolado, recebe dele apoio e atenção especiais.
O roteiro é hábil em despertar também em nós, espectadores, a dúvida sobre a culpa ou inocência do padre, mas, a mim, pessoalmente, causou muito maior assombro o comportamento autoritário da freira, que não vacila em acusá-lo, mesmo sem provas concretas. Para culpá-lo, ela maximiza evidências vagas relatadas pela jovem freira interpretada por Amy Adams, também indicada ao Oscar de atriz coadjuvante pelo papel – o filme, aliás, rendeu quatro indicações de atuações naquele ano: além de Meryl e Amy, também para Viola Davis e Phillip Seymour Hoffman.
Assustadora esta freira que olha nos olhos de todos e diz exatamente o que deve ser feito, que não admite que possa haver outras versões para o que é certo, que acua a todos com suas certezas
O desfecho do filme reserva destinos surpreendentes aos antagonistas. Nada é o que parece ser e descobrimos que há algo de frágil na autoridade de quem não admite questionamentos. Se as certezas são sua sustentação, o que acontecerá a essas pessoas quando a mínima dúvida começar a corroer este pilar?
Com o tempo, também deixei de temer as pessoas que têm certeza de tudo, porque, no fundo, todas as certezas são frágeis.