‘Flipped’: muito além de um amor de infância

Em um dicionário Inglês-Português da internet, “Flip” é traduzido tanto como um salto mortal da ginástica, quanto o ato de “atirar” ou de “lançar ao ar” uma moeda – ou, ainda,  “virar de posição”. Diferentes entre si, todos estes significados cabem, de alguma forma, no filme “Flipped” (“O Primeiro Amor” no Brasil), embora a protagonista use o termo mais como uma gíria sinônimo de “surtar” (“The very first time I saw Bryce Loski, I flipped”).

Com roteiro e direção de Rob Reiner (“Questão de Honra”, “Conta Comigo”, “Louca Obsessão”), o filme conta como um casal de vizinhos compartilha desencontros e descobertas dos 7 aos 13 anos de idade, nunca na mesma sincronia, com cada fase da relação mostrada sob o ponto de vista de um e outro.

Parece outra história de “menino conhece menina”, mas não é! “Flipped” vai muito além da narrativa de um amor de infância. Também é a história de como os jovens Juli e Bryce aprendem a refletir e, consequentemente, ver com novos olhares o mundo, as pessoas e a si mesmos.

Juli inicia este processo instigada de uma forma muito linda por seu pai. Enquanto pinta um quadro no quintal de casa, ele questiona a filha sobre o que ela vê em seu apaixonado para além da aparência. “Numa paisagem, o todo é mais importante do que a partes”, filosofa. O amigo idoso, Chet, elabora ainda mais a metáfora: “nos seres humanos, às vezes, o todo pode ser menor do que as partes”. A menina aproveita muito bem tais provocações, passando a refletir sobre o que a soma das partes de cada indivíduo à sua volta diz sobre eles.

Em Bryce o chacoalhão que o faz começar a pensar por si mesmo também é dado por Chet – não por acaso seu avô, que enxerga na pequena Juli o mesmo espírito transcendente da falecida esposa.

Como resultado das novas reflexões, Juli e Bryce vão trocando de posição (flip!) – ela recuando em sua intensidade à medida que passa a pesar mais suas escolhas… ele atirando-se mais nas experiências à medida que vai parando de pautar suas ações e julgamentos pela opinião alheia.

Superficial só na aparência, o filme está mais para um manual didático sobre a importância da reflexão no processo de aprendizagem propiciado pelas experiências. Prova, da forma mais encantadora, que quanto mais cedo se começa (a refletir), melhor!