“Elysium”, longa metragem de ficção científica estrelado por Matt Damon, entrou em cartaz no Brasil sob a pressão de três grandes pontos de interrogação:
O primeiro diz respeito às expectativas dos brasileiros em geral, ansiosos por ver como Wagner Moura se saiu em seu primeiro papel hollywoodiano; o segundo, de interesse dos cinéfilos em particular, remete à comparação deste segundo trabalho do cineasta sul-africano Neill Blomkamp, após seu retumbante sucesso de estreia com “Distrito 9”; e o terceiro, feito a todos os apreciadores de cinema em qualquer nível, é sobre se o filme, independente de qualquer comparação, funciona como entretenimento dentro de suas propostas.
Como me encaixo nas três categorias de apreciadores de cinema, vou dar minhas respostas:
1) Wagner Moura não me surpreendeu no papel do coiote Spider simplesmente porque eu não esperava dele menos do que uma atuação fantástica, como são todas as suas performances, seja em teatro, televisão ou cinema.
Para quem quiser mensurar seu talento pela comparação, basta lembrar as atuações de Matt Damon em quaisquer outros de seus filmes – da franquia Bourne a “Compramos um Zoológico”, só para focar dois gêneros bem díspares. É sempre “Matt-Damon-interpretando-alguém”.
Depois veja Moura em “Deus é Brasileiro”, “O Caminho das Nuvens” e “Tropa de Elite”: você se lembra que é Wagner Moura ali? (eu não). O ator some atrás do personagem, tão perfeita fica sua caracterização. Em “Elysium” até me esforcei para encontrar a familiaridade das expressões de Capitão Nascimento no seu personagem, Spider, mas o que vi foi uma persona totalmente estranha, com um sotaque indefinível e um rosto que apenas lembrava o de Moura.
Só o carisma funcionou como sempre.
E o que deve estar enchendo todos os brasileiros de orgulho (a mim, inclusive) é que Spider e Frey – personagens de Moura e Alice Braga, respectivamente – são personagens tão importantes na trama que podem ser considerados co-protagonistas.
Ao contrário de Rodrigo Santoro, que começou em Hollywood com pontas sem fala e evoluiu gradativamente de pequenos papéis a co-protagonista, Moura pode se orgulhar de ter entrado em Hollywood pela “porta da frente” das grandes produções.
E chegou arrebentando!
2 e 3) Apesar de “Elysium” atender honesta e competentemente aos requisitos de um “bom” longa metragem de ficção científica, não vai além disso. Quando comparado a “Distrito 9”, com o qual seu diretor inovou, temperando sua história de ficção científica com crítica social e linguagem de documentário, fica aquém das expectativas.
Faltou aquele quê de originalidade que nos surpreendia a cada quadro de “Distrito 9”. Nas sequências de luta, eu sentia uma incômoda sensação de deja vú – a mesma que me assalta em qualquer outro filme de ação hollywoodiano, quando começa a sessão pancadaria.
Fez-me lembrar de um desabafo de José Padilha (diretor de “Tropa de Elite”), que li em algum lugar da internet, sobre sua frustração diante das várias recusas que suas modificações no roteiro de “Robocop” recebia dos chefões do estúdio. Lembro dele dar a entender que originalidade e criatividade são considerados “perigosos” para a bilheteria (será este o caso de Blomkamp?).
Até a crítica social, contundente em “Distrito 9”, sai mais fraca em “Elysium”, principalmente para nós, brasileiros. Pobres morrendo à porta de hospitais ou em macas pelos corredores sem atendimento decente de saúde, enquanto os ricos têm acesso aos últimos avanços na área e seus interesses defendidos por políticos corruptos? Para nós (INFELIZMENTE) é “filme velho”.