“A Partida“, filme japonês ganhador do Oscar de Melhor Estrangeiro de 2009, é uma grata surpresa. Ingênuo, sutil e contido como a própria alma japonesa, o filme mostra um violoncelista obrigado a voltar para a cidade natal com a jovem esposa, após a dissolução da orquestra em que tocava. Acaba aceitando um emprego de acondicionador de corpos (que prepara os cadáveres para colocação no caixão) por um salário muito bom.
Parece tétrico – e no começo é mesmo -, mas há uma lição de amor em “A Partida”. A certa altura, discriminado por amigos e pela própria esposa pelo emprego desabonador, Daigo descobre dignidade e honra na profissão que começou odiando. De alguma forma isso o ajuda a se reconciliar com o violoncelo, que via como um símbolo de seu fracasso na cidade grande. E o contato com as dores de quem se despede o faz preparar com carinho e respeito quem parte.
A gema mais preciosa desta produção está no final, quando o novo ofício confronta Daigo com mágoas do seu passado. Não vou descrever este momento, mas posso dizer que é uma dessas cenas que coloca a nós, viajantes virtuais, em contato com emoções tão fundas que nem parecem nossas.