Depois de tudo o que li sobre o filme “Gravidade” na imprensa, fui ao cinema preparada para cenas contemplativas do espaço e um ritmo de narrativa mais lento. Afinal, é um filme todo rodado dentro de estúdio e seu elenco tem apenas dois atores, que passam a maior parte do tempo em trajes espaciais.
Mas devo dizer que o espaço sideral do diretor mexicano Alfonso Cuarón está mais para uma Marginal Pinheiros em horário de pico se comparado, por exemplo, ao de Stanley Kubrick em “2001 – Uma Odisseia no Espaço”. Tudo acontece neste território hostil, que parece regido pela Lei de Murphy (segundo a qual tudo o que pode dar errado, dá!).
A ação começa eletrizante logo nas primeiras cenas, quando uma nave da NASA em missão de conserto no telescópio Hubble é arrasada, deixando apenas dois sobreviventes: o experiente Matt Kowalski (George Clooney) e a novata Ryan Stone (Sandra Bullock). Lançados à deriva no espaço, sem comunicação com a base terrestre, eles precisam lidar com a gravidade zero e um estoque limitado de oxigênio para alcançar um dispositivo de reentrada na Terra.
Bullock carrega o componente trágico do roteiro. De luto pela filha morta recentemente, terá de escolher, a certa altura, entre entregar-se à morte ou lutar para sobreviver.
O diretor Cuarón constrói metáforas visuais sugerindo o significado da segunda escolha – repare na posição fetal de Sandra Bullock ao entrar na cápsula de reentrada. Muitos dos acontecimentos e imagens a seguir sugerem o simbolismo de um certo processo humano – a sofrida saída de um ambiente tranquilo para a entrada na Terra, o (re)aprender a andar…
Bullock defende bem a personagem, mesmo passando maior parte do tempo atuando apenas com a metade do rosto que o traje espacial deixa ver. Nada mal.