Sobre a repercussão do episódio de racismo estrutural ocorrido no reality show Big Brother Brasil (BBB), acho que, em vez de jogar pedras, devíamos ajudar as pessoas a enxergarem o próprio preconceito, pois só a partir disso elas vão se conscientizar de que devem mudar. Dito isso, segue minha contribuição neste caso específico:
Quando o participante Rodolfo disse que o cabelo de sua fantasia de “Homem das cavernas” parecia o do colega de confinamento João, foi como este se sentiu – e como entendeu que pessoas como o sertanejo o veem devido a seu cabelo crespo.
Como beleza é um conceito socialmente construído, o episódio mostra que o de Rodolfo está contaminado pela crença (racista sim!) de que cabelo de negro é sinônimo de feiura.
Até acredito que Rodolfo não tenha tido intenção de ofender, mas é esta (a inconsciência) a principal característica do racismo estrutural: está tão arraigado em nosso comportamento e em nossas crenças que não o enxergamos.
Pra enxergar, é preciso, como a outra BBB Camila muito propriamente pontuou, APRENDER, e só se faz isso colocando-se no lugar das vítimas. No caso do Rodolfo, significaria sair do ponto de vista do próprio umbigo (de onde ele só enxerga que não houve intenção de ofender) pra perguntar por que o João se sentiu ofendido.
O João já deu uma pista quando disse que não é porque tem esse cabelo que é um homem das cavernas (uma figura pejorativamente associada à feiura e à brutalidade).
Quando Rodolfo finalmente enxergar que a comparação fez João sentir-se feio e brutal, deve ir mais fundo na reflexão e SE PERGUNTAR por que uma fantasia de monstro o fez, impulsivamente, compará-la ao João. A resposta sincera a este auto questionamento é que levará ao aprendizado de Rodolfo sobre seu racismo inconsciente.
Espero ter contribuído.