O drama alemão “Labirinto de Mentiras” (Im Labyrinth des Schweigens, 2014), de Giulio Ricciarelli, é inspirado em fatos reais.
Na Alemanha de 1958 – portanto mais de uma década após a derrota de Hitler na 2ª Guerra Mundial -, um jovem promotor de Frankfurt decide dar ouvidos a um ativista solenemente ignorado pelos colegas que pedia a investigação de crimes de guerra.
Da primeira entrevista com um judeu sobrevivente de um campo de concentração nazista, Johann Radmann (Alexander Fehling) e sua secretária saem incrédulos e chocados. Mal sabem que o relato era apenas o primeiro de muitos – milhares – que desnudariam uma rotina de tortura e desumanidades praticadas pelo regime de Hitler e que a sociedade alemã estava feliz em ignorar àquela altura. Mas Radmann não deixa por menos e começa não só a investigar como a caçar as principais autoridades responsáveis pelos crimes relatados – Josef Mengele entre eles. Claro que enfrenta a chacota de seus pares e muitas dificuldades impostas pela ordem vigente, que acha muito conveniente deixar tudo no passado.
Mas não é o isolamento e nem as forças contrárias que chegam a abalar a determinação de Radmann, mas a constatação de que o nazismo não foi algo que uma minoria enfiou goela abaixo dos demais alemães, mas um regime abraçado, aprovado, aceito por uma porção majoritária da sociedade e que estendeu seus tentáculos até o núcleo imaculado da família do próprio promotor.
A história não confirma a crise de identidade que chegou a levar Radmann a desistir – ainda que por um curto período de tempo – de sua cruzada, mas o conflito descrito no filme confere humanidade e, consequentemente, identificação àquela figura que começava a ganhar contornos heroicos. Salutar em um momento que tende-se a entronizar acima do bem e do mal um “Sergio Moro”, por exemplo.
Hoje sabemos que Josef Mengele, o médico-monstro que usava prisioneiros dos campos de concentração como cobaias de experimentos científicos, sobreviveu incólume à caçada de Radmann e morreu livre no Brasil, seu último esconderijo. Mas a Alemanha e o mundo todo devem ao jovem promotor a punição de muitos nazistas responsáveis pelas histórias de horror do holocausto judeu.
O longa faz jus a isso sem mergulhar no ufanismo Recomendo!