* MARCELLA MOREIRA
Minha namorada e eu estávamos à mesa tomando um café da manhã preguiçoso de domingo – aquele a cada 15 dias em minha folga do trabalho e a doídos 200 km de distância – quando comecei a chorar…
Nossa gatinha esparramada no tapete vermelho da sala fazia a manha corriqueira, enquanto o sol entrava pela persiana, riscando parte do sofá.
Nada de especial, a não ser o cheirinho do café moído na hora, o fumegar do líquido preto subindo da cafeteira italiana e o riso suave de quem sabe estar vivendo um momento de milagre.
Não temos luxo quase nenhum, mas muitíssimo mais que a falta de possibilidades da maioria que vive em nosso País. A maior riqueza é, dentro daquelas quatro paredes, não sentir medo, seja pela falta, pela incompreensão, pelo desrespeito, pela injustiça, pelo desamor e de tudo mais.
“O mundo está desabando lá fora. Chega a faltar vontade de continuar. Mas daí chego em casa e é tão bom saber que ela é um paraíso”, falei, na certeza de que minha companheira poderia receber minhas palavras como uma grande declaração de amor.
Casa é a mesa redonda de vidro que ela herdou da avó, que lutou bravamente contra o câncer por quase uma década. É aquela minha mesinha de pés palito recoberta de marchetaria, que (infelizmente!) carrega marcas das nossas taças de vinho. Também é o banheirinho da nossa filha peluda, necessário, indispensável e que tentamos fazer com quem componha o ambiente da maneira menos traumática possível.
Enquanto para algumas pessoas é bacana a assinatura do designer e até o preço investido num móvel, pra nós, porém, vale mais a história e o afeto que as coisas carregam.
Pra gente, casa tem que ser lar, aquele lugar onde mora o coração.
(*) Marcella Moreira é jornalista freelancer, mineirinha, “mãe de gata” e palavreira sensível
Toda semana, às quartas, o blog traz a crônica de um(a) ‘palavreiro(a)’ convidado(a). O convite é extensivo a todos que gostam de palavrear a vida em forma de crônicas.
‘VEM PALAVREAR COM A GENTE!
1 comentário
Marcela, teu texto tem sensibilidade, mas não vejo o porquê de dizer “infelizmente” para as marcas das taças de vinho na marchetaria da mesa. Ainda que possam denotar descuido, desleixo, e sejam indeléveis, devem ser vistas poeticamente. Assim como Chico viu “as marcas do amor nos nossos lençóis”.