Andava eu orgulhosinha de mim, achando que perseverava no desapego, quando meu Márcio Pelegrina veio me apresentar o conteúdo resgatado do bagageiro de minha moto acidentada para inventariar.
Roupa de chuva, ok; cadeado de roda, ok; pashmina que levava pro trabalho, check; bota que calçava na hora do acidente, check; Colar roxo preferido…
(?)
Pronto! Eu, que só havia chorado de dor até então – nem pela moto quebrada, nem pela troca de roupa que arrancaram a tesouradas do meu corpo -, senti o nó na garganta se formar porque não me reencontrei com o colar roxo de tecido com lycra que Zélia Lazarini fez de encomenda pra mim.
Eu o colocava sempre que queria acender um visual monocromático com um ponto de cor – a “minha cor” (já disse que lilás e roxo fazem meus olhos felizes?), para desespero da querida Valeskinha.
Escondi uma lagriminha teimosa assim que ouvi o Márcio voltando da garagem. Trazia meu capacete protegido numa sacola de supermercado amarrada. E eis que, ao desamarrá-la, vejo um volume roxo lindo se destacar contra o fundo preto do estofo.
Beijei, abracei e agradeci por meu colar de malha que as mãos de artesã da Zélia criaram só pra mim. E tudo ficou lindo de novo.
Vai me entender…