Cinco centímetros

Meu mundo encolheu.

Ficou pequeno de repente ou será que está assim faz tempo e só me dei conta agora? Neste exato momento em que escrevo ele tem o tamanho do primeiro salto fino de 5 centímetros que coloco em quase dois anos.

Sei que ele tomou esta dimensão porque, pelos cerca de 200 metros caminhados entre o estacionamento de veículos e minha mesa de trabalho, equilibrar-me sobre aqueles finos 5 cm tornou-se o propósito da minha vida.

Não tinha me dado conta disso até chegar arfando ao destino.

“Correu Silvia?” – perguntou minha colega de trabalho ante meu descontrole respiratório.

“Quem me dera”. Andei foi bem devagarinho, cuidando de cada passo, esquadrinhando cada centímetro quadrado de piso antes de depositar sobre ele meu equilíbrio vacilante de acidentada.

Arfava era de algum tipo de emoção que não sei se consigo explicar… uma melancolia de finitude, como uma nostalgia de um sonho que, realizado, não parecia mais tão… sonho.

Talvez porque foi ali que me dei conta do tamaninho do meu mundo.

Lembrei-me do Du e da Clara, que acabaram de vender tudo o que tinham no Brasil para mudar-se de vez para a Espanha (isto sim de tirar o fôlego)… do querido Marcelo, vivendo há 20 anos em Londres a administrar saudades que mata por 30 dias ao ano… de minhas amigas, que já trilharam o Caminho de Santiago de Compostela e a Via Francígena, na Europa, e agora fazem planos de uma viagem ao Chile.

E eu limitando os meus a conseguir equilibrar-me sobre um salto fino de mulher.

Agora entendo o frio na barriga sentido quando me convidaram pra tal viagem: estava tão quentinho ali, encolhidinha que estava dentro de meus “não-planos” (aqueles que se faz quando não se tem plano algum) de voltar a usar salto ou decidir se poupo para trocar de carro ou faço reserva para um hipotético futuro desemprego!

Quando foi que fiquei tão pequenininha?

Será que consigo crescer de novo?

Barriguinha, prepare-se! Acho que vou levá-la (com frio e tudo) ao Chile.

 

* Publicada no jornal A Cidade em 15/2/2018