Minha predileção pela série “Downton Abbey” tem mesma raiz da que tenho por toda literatura de época e pelo humor ingleses: irônico e implacável, sem firulas… um contraponto, aliás, a todo o mise en scene da vida em sociedade deles. Enquanto nas aparências tudo segue rituais centenários, nas relações nada de meias palavras ou sentimentalismos piegas. Até o romantismo inglês é mais contido e original.
Em “Downton Abbey“, por exemplo, acho divertidíssimo acompanhar o respeito reverente com que nobreza e criadagem esforçam-se para desempenhar seus papéis na cena social. Ao mesmo tempo, são todos conscientes de que estão em cena e, talvez sentindo-se redimidos pelo cumprimento deste dever, não esforçam-se para “dourar a pílula” nos diálogos.
A personagem Mary, por exemplo, à qual cabe o papel de uma das heroínas românticas da série, não é nada frágil ou preocupada em agradar sempre (muito pelo contrário). Pragmática, não fazia a menor questão de esconder que procurava um marido com fortuna e título à altura de suas aspirações sociais, no início da série, mas acabou lograda ao se apaixonar pelo primo advogado, idealista e avesso à pompa da nobreza rural.
Numa das cenas finais do primeiro episódio da terceira temporada, que foi ao ar na última semana nos EUA, ela está em frente ao altar, ao lado do primo, com quem esteve próxima de romper o noivado na noite anterior, quando ouve: “Você veio. Não tinha certeza de que viria”. Ela responde: “Ótimo. Odiaria tornar-me previsível!”.
Não se enganem, o romance que eles protagonizaram nas primeira e segunda temporadas foi delicioso, mas cheio desse tipo de diálogo original e nada açucarado.
Mas o que mais me emocionou neste início de temporada foi a deliciosa surpresa de ver descer em frente à mansão que dá nome à série, na pele da avó americana de Mary e mãe de Lady Grantam – a senhora de Downton -, ninguém menos que a maravilhosa Shirley MacLaine.
Ver este vulcão americano em cena, ao lado da veterana inglesa Maggie Smith – a matriarca dos Grantan -, foi de tirar o fôlego para mim (já disse aqui como prezo grandes atores e ótimas interpretações). Elas contracenam juntas por poucos segundos e em tomadas quase corriqueiras, mas nem precisam de um grande texto para arrasar. Sozinhas, elas são o show!