Era uma vez dois mundos. O chão de um começava onde o céu de outro acabava. Um mundo era rico e outro era pobre. E quem nascia em um, não conseguia viver em outro, porque estava aprisionado ao chão pela gravidade de seu próprio mundo.
Um dia, um menino subiu na montanha mais alta do Mundo Inferior – o pobre – e avistou uma menina passeando pela montanha mais alta do Mundo Superior – o rico. Eles ficaram amigos, cresceram e se apaixonaram, mas só podiam se beijar com os rostos invertidos.
Assim começa a história de “Mundos Opostos” (Upside Down), que merece a sinopse de conto de fadas, já que cultiva as doses de fantasia e alegoria características do gênero. Mas o filme do argentino Juan Solanas é muito mais que isso.
À guisa de rótulos, pode-se dizer que é uma ficção científica com doses cavalares de romance e uma leve crítica social, mas importante mesmo é frisar o encantamento com que se deixa assistir a história de Adam (Jim Sturges de “Um Dia”) e Eden (Kirsten Dunst, de “Homem Aranha” de Sam Raimi), separados não por convenções sociais ou vilões, mas pelo determinismo de seus mundos.
É emblemático que seus nomes remetam a uma outra história, que abre um determinado livro sobre o início dos tempos.
Em “Upside Down”, ninguém é expulso do paraíso, mas nada mais será como antes naqueles dois mundos depois que Adam decidir lutar contra o impossível por sua Eden, o “seu” paraíso.
É lindo de assistir, mesmo que no fundo não acreditemos mais em conto de fadas (será que não?).