Mais de dez anos após “Sociedade dos Poetas Mortos” ter despertado profundas e transformadoras emoções na jovem que fui, um outro filme veio a me inspirar a mesma ternura. “Olhos Abertos” (Wide Awake, 1998) foi escrito e dirigido para a televisão pelo cineasta de origem indiana M. Night Shyamalan, um ano antes dele alcançar reconhecimento de público e crítica com “O Sexto Sentido“. Toda vez que o revejo sinto as mesmas emoções de décadas atrás.
Singelo, o filme acompanha as peregrinações de um menino de 11 anos, Joshua (Joseph Cross, de “Correndo com Tesouras”), que, após perder um avô muito querido, decide sair à procura de provas da existência de Deus. O objetivo é se certificar se o avô foi para um bom lugar e ao lado de Deus. Ele começa , então, a bombardear de perguntas vários adultos à sua volta, inclusive os pais – um casal de médicos agnósticos -, mas principalmente representantes de diferentes religiões que cruzam seu caminho. No processo, instiga à reflexão todos os que o rodeiam e começa a “abrir os olhos”- no sentido de tomar plena consciência – para as pessoas e o mundo à sua volta.
É terna e didática a forma como o roteirista/diretor conduz Joshua por este processo de despertar, mas nem por isso simplória – aliás, me irrita a freqüência com que os mais ferrenhos críticos de Shyamalan confundem a simplicidade de suas histórias com banalidade e vêem infantilidade onde vejo alegoria e simbolismo. Para mim, a força do cinema do indiano está exatamente onde os críticos vêem sua maior fraqueza: numa indústria de entretenimento sustentada sobre roteiros-fórmula, ele se atreve a filmar histórias singelas, cheias de signos intelegíveis por todas as idades, o que as aproxima muito dos contos de fadas.
Lembro que os contos de fadas não são reproduzidos oralmente há séculos à toa. A força de sua longevidade reside no fato de conseguirem penetrar o insconsciente humano, que rege todas as nossas ações involuntárias e que entende a linguagem dos signos. Não é pouco!