Assistindo emocionada ao filme “Selma”, sobre os bastidores da marcha liderada por Martin Luther King pelo direito ao voto dos negros, melancolicamente passei a refletir sobre a diferenças entre aquele momento político e o nosso atual no Brasil.
Quase senti inveja daquelas pessoas que tinham como inimigos opressores muito claros – o ódio e preconceito de uma parcela da população branca e a omissão da classe política –, mas como líder o pastor Martin Luther King, que conseguiu conduzi-las através de um mar de violência e ódio de forma pacífica, embora firme.
Hoje, no Brasil, a grande maioria da população é oprimida pela privação de direitos constitucionalmente essenciais, que são educação, saúde e alimentação decentes e dignos. Mas seus algozes não são declarados como os racistas norte-americanos. São pessoas que passam por respeitáveis na estrutura social enquanto integram redes de corrupção entranhadas em todas as estruturas de poder. E não temos um líder compassivo e justo como King para nos conduzir – achamos que Lula o seria, que pena!
Enquanto em “Selma” assistimos a pessoas de todas as cores de pele, religiões e crenças solidarizando-se com os oprimidos negros, no Brasil assistimos a uma triste desunião. Uma grande parte da classe média e a maior parte da classe alta saem às ruas fazendo manifestações preconceituosas (contra nordestinos, pobres e a quem mais pensar diferente deles), desrespeitosas (xingamentos de baixo nível principalmente contra a maior autoridade do País) e (absurdo dos absurdos!) de incitação a golpes ao Estado de Direito. Tudo para defender os interesses de sua classe.
Em “Selma”, a união venceu a opressão e, por aqui, brasileiros destilam discurso de ódios contra outros brasileiros apenas por discordarem.
E assim seguimos um País enfraquecido pela cisão e a intolerância mútua.