Todos temos assistido perplexos à escalada da violência no Rio de Janeiro, que levou à convocação de tropas do Exército para reforçar a segurança no Estado e, na última sexta, à intervenção federal em sua segurança pública.
Repete-se, no Rio, o raciocínio que levou, há alguns anos, à instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) nos complexos de favelas. Novamente investe-se em um “remédio” com capacidade de atuar apenas nos sintomas da “doença” do Rio, que é a criminalidade.
Ao contrário do que possa parecer, suas numerosas causas não passam pela vulnerabilidade de polícias mal equipadas e mal pagas – esta é, antes, um dos sintomas, ao lado dos números crescentes de mortes de policiais e inocentes em crimes com abordagem violenta e tiroteios entre facções ou entre policiais e criminosos.
As verdadeiras causas são sociais e todas de responsabilidade de um Estado mal gerido e contaminado pela corrupção, que não cumpre seus deveres constitucionais de garantir direitos essenciais (saúde e educação no topo da lista) a todos os cidadãos, sem distinção de classe ou credo.
Excluídos, os mais pobres têm de escolher entre passar a vida toda dependendo da prestação ineficiente ou quase inexistente desses serviços públicos ou tornar-se parte do problema juntando-se ao crime organizado, que lhe proverá o que o Estado lhe nega (sensação de pertencimento inclusa). Da mesma forma, o policial é confrontado com sua própria escolha: trabalhar honestamente, com salário que não lhe permite morar muito longe das favelas, ou também fazer parte do problema tornando-se corrupto.
É claro que a intervenção do Exército diminuirá os números da criminalidade em um curto prazo, pois é treinado para a guerra – que é o que está ocorrendo hoje no Rio. Mas, assim que terminar, é muito provável que, em poucos anos, esses números voltem ao patamar de descontrole de hoje. Foi assim com o projeto das UPPs e assim será com a intervenção federal se nenhuma “vacina” social começar a ser colocada em prática pelo Estado desde já.
Publicado no jornal A Cidade em 21/2/2018
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