Se não sabe a quem diabos me refiro no título deste texto, não se preocupe. Shirley, Rosalba e Mercedes são personagens femininas de filmes com pegada mais independente (portanto menos distribuídos que os “arrasa-quarteirões” da indústria), produzidos com baixo orçamento, de uma as três décadas atrás – “Shirley Valentine” (Inglaterra, 1989 – inspirado em peça teatral homônima), “Pão e Tulipas” (Itália, 2000) e “Divã” (Brasil, 2009 – também egresso do teatro), respectivamente.
Foram exatamente estes os motivos que me fizeram escrever sobre elas, pois acho um desperdício personagens tão inspiradoras não serem revisitadas com a mesma frequência que uma “mulher maravilha” – o que, aliás, elas também são a seus modos.
A inglesa Shirley, a italiana Rosalba e a brasileira Mercedes têm de diferente a nacionalidade e a década em que foram apresentadas ao público ocidental, mas se assemelham em quase tudo o que é importante. São amorosas, dedicadas, inteligentes e, acima de tudo, corajosas!
Na pele das atrizes Pauline Collins, Licia Maglietta e Lília Cabral, respectivamente, elas empreendem lindas viagens – literais e interiores – em busca das próprias identidades, que perderam enquanto assumiam (e se perdiam dentro de) papeis de mães e esposas. E vocês sabem: quando o mundo começa a confundir nossa identidade com os papeis que assumimos é quase certo que nós também nos confundiremos – por isso se chama “crise de identidade”.
Shirley e Rosalba resolveram suas próprias crises viajando. A primeira aceitou o convite de uma amiga para passar férias na Grécia após constatar que, para os filhos e o marido, representava pouco mais do que um móvel da casa. A segunda foi aprender a viver sozinha em Veneza depois de ter sido esquecida pela família em um posto de gasolina durante uma viagem de férias. Já para a brasileira Mercedes, a viagem foi interior e começou no divã de um psicanalista, que ela resolve procurar “por curiosidade”, pois está convencida de ter uma vida feliz.
Assisti às três questionarem a vida que construíram até ali e traduzirem suas reflexões em atitudes é redentor!
Longe de seus papéis de mães e esposas, as três personagens se auto-conhecem novamente e descobrem-se como seres humanos mais complexos do que aqueles a que os papéis que assumiram durante a vida as reduziram. São mães e esposas, sim – com muito orgulho! -, mas também muito mais!
Nenhuma delas perde tempo jogando a culpa de suas rotinas alienantes em outras pessoas. Sabem que não há vítimas onde existem escolhas. Foram elas que escolheram seus papeis e se acomodaram neles, a ponto de, em dado momento, deixarem-se confundir com eles.
Shirley, Rosalba e Mercedes escolhem agir sem ódios nem rancores e mudar suas vidas radicalmente porque entendem que podem escolher sempre. Escolheram ser inteiras!