Liberei uma grande lufada de ar dos pulmões ao terminar de rever “Sonata de Outono” (Suécia, 1978), no Cine Arte 1, como se não respirasse há horas. Havia esquecido como o diretor Ingmar Bergman consegue ser impiedosamente denso abordando relações delicadas.
Eva (Liv Ullmann, atriz preferida e esposa de Bergman) recebe em casa a mãe, Charlotte (Ingrid Bergman sessentona e lindíssima), pianista famosa, que não via há sete anos. Parece um feliz reencontro, mas, aos poucos, quase sem percebermos como e quando, os diálogos vão evoluindo de pequenas demonstrações afetivas para um implacável acerto de contas entre filha oprimida e mãe ausente.
Não há vozes alteradas ou gestos dramáticos. Fiéis ao jeito frio de ser dos suecos, Liv e Ingrid são presenças cálidas, quase frágeis na tela. A violência está nos sentimentos que seus diálogos liberam e nas expressões que a câmera de Ingmar capta em closes fechadíssimos – uma de suas marcas.
Há uma cena em que Charlotte confessa a seu agente, com evidente auto-piedade, seu choque ao encontrar a filha mais nova e doente, Helena (Lena Nyman), muito pior que da última vez que a vira anos antes, quando a internou numa instituição – de onde Eva a tirou depois.
“Por que ela não morre?”, diz Charlotte com um ar blasè, como se comentasse o clima.
Assim é Bergman.