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‘O Espetacular Homem-Aranha’: redondinho

Após assistir a “O Espetacular Homem-Aranha” em 3D legendado, tenho a dizer que, para mim, sua grande qualidade é justamente sua maior contradição apontada pela crítica especializada. O filme não entrega o que o adjetivo do título promete: o espetáculo. Mas, sinceramente, não senti a menor falta. Acho que o humor piadista do super-herói nas sequências de ação resultou em um substituto muito eficiente para a pirotecnia visual, que, na trilogia anterior, davam-me uma sensação de “vamos-fazer-uma-pausa-na-história-para-dar-o-show”.

Não me entendam mal, também adoro os filmes de Sam Raimi, mas achei o de Marc Webb mais redondo. Não há a menor gordura em seu roteiro, apesar das 2h20 de duração, que nem vi passar. Claro que os efeitos especiais – de grande qualidade, reconheça-se – estão lá, mas são coadjuvantes das cenas e não “o motivo” delas existirem.

Também gosto do fato deste Peter Parker ser mais imperfeito. É um nerd que não resiste a dar uma lição nos valentões de plantão e que sucumbe à raiva, sim, revolta-se, comete erros. Por mais que suas escolhas seguintes o redimam, sempre carrega a culpa por seus atos impensados.

E Andrew Garfield, com seu ar doce de menino desprotegido, passa tudo isso com comedimento. Aliás, esta qualidade está por todo o filme. Mesmo o romance entre Peter e Gwen Stacy (Emma Stone, ótima!) não tem uma gota desnecessária de açúcar. A forma como ocorre o primeiro beijo – o único concretizado no filme todo -, por exemplo, é romântica, mas um primor de concisão. Em apenas um movimento concretiza-se o beijo e a revelação que Peter não conseguia fazer com palavras.

É igualmente cativante assistir às cenas de encantamento entre ambos, das atrapalhadas e gaguejantes tentativas de aproximação dele ao “balé” sensual do quase-beijo que protagonizam no quarto dela – ele recém-chegado de uma “missão”, todo machucado (repararam que o Peter Parker de Sam Raimi nunca ficava com um arranhão?).

Quem gosta de “show” vai achar o filme morno. Já eu achei perfeito.

‘Não me abandone jamais’ é para os fortes!

Foi procurando os títulos em que o jovem Andrew Garfield já atuou no cinema que cheguei ao doce e dolorido drama “Não me abandone jamais” (Never Let me go, ING, 2010), de Mark Romanek. Não procurava o Andrew Garfield prestes a virar astro do novo Homem-Aranha, mas o que me fez torcer pelo “derrotado” Eduardo Saverin de “A Rede Social”. Se você viu o mesmo que eu em sua atuação não pode perder este filme. Na pele do doce, sensível e limitado Tommy, a improvável mistura de fragilidade e atitude de sua atuação elevam o carisma de Garfield um nível acima.

“Não m e abandone jamais” é inspirado em livro de Kazuo Ishiguro, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 2017 e mesmo autor de “Resíduos do Dia” –  que deu origem ao também inglês e igualmente melancólico  “Vestígios do Dia” (Remains of the Day, ING, 1993). A trama acompanha a amizade dos personagens Tommy (Garfield), Ruth (Keira Knightley) e Kathy (Carey Mulligan), iniciada na infância dos três, passada em um internato cheio de disciplinas rígidas quanto à alimentação e à saúde e sem contato nenhum com o mundo exterior.

O pano de fundo é um presente distópico, em que a legalização da engenharia genética enseja anomalias sociais como a de seres humanos criados única e exclusivamente para abastecerem, quando adultos, a indústria de órgãos humanos.  Ou seja, eles crescem sabendo que estão destinados a terem seus órgãos retirados cirurgicamente, um a um, até morrerem.

O conhecimento precoce dessa cruel realidade precipita a formação de um triângulo amoroso entre os protagonistas. Quando chegam à iminência de cumprirem seus destinos, os três jovens tentam desesperadamente fugir a ele e, no processo, um amor é restaurado, uma culpa redimida, mas muitas ilusões e esperanças acabam perdidas.

Tento não usar a palavra tristeza para o filme, já que meu irremediável romantismo tende a supervalorizar o amor em detrimento do drama, mas não há como evitar. A história é irremediavelmente melancólica, mas também linda porque sobre amor.

Ainda assim, é para os fortes!