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Bravas vozes femininas

Quando se trata de filmes com temática racial, os meus preferidos entre todos no mundo são “Uma História Americana” (The Long Walk Home, 1990) e “Histórias Cruzadas” (The Help, 2011). Não por acaso filmes protagonizados por personagens femininas vivendo nos reprimidos (principalmente para elas) anos 1950, no sul dos Estados Unidos, onde leis racistas mantinham o apartheid social.

A preferência por dois filmes tão similares não foi consciente, mas faz muito sentido agora que penso nisso. São sobre sororidade. É a única”arma” com que contam as mulheres nesses filmes, que, com tão pouca liberdade, numa época em que suas vozes eram relegadas às copas e cozinhas das casas e deviam total obediência a pais e maridos, ousaram agir conforme suas consciências, contra toda a ordem estabelecida.

Em “Uma História Americana”, Sissy Spacek (que 20 anos depois também faria uma ponta em “Histórias Cruzadas”) é Miriam, uma dona de casa de classe média alta alienada que vive em comunidade do estado sulista do Alabama. Quando sua empregada, Odessa (Woopi Goldberg sempre perfeita!), passa a chegar atrasada e cansada, por não usar condução até o trabalho, ela decide buscá-la com seu próprio carro, todos os dias. Na época, o boicote aos meios de transporte foi uma forma de protesto pacífico dos negros contra a lei que os impedia de se sentarem em qualquer lugar dos ônibus coletivos – tinham que usar os bancos de trás, para não se misturarem aos brancos nos da frente.

No começo, Miriam decide dar a carona mais para agilizar a rotina planejadíssima de sua casa. Mas conhecer a realidade e o modo de vida dos negros em suas comunidades lhe desperta reflexões. É sutil a forma como o filme mostra, por meio de pequenos detalhes, Miriam tomar consciência e, aos poucos, começar a desafiar o status quo – em seu microcosmo representados por seu próprio marido e a sociedade abastada onde sua família gravita.

Histórias Cruzadas” foi o filme que me fez enxergar Emma Stone – que até então eu só via subaproveitada em comédias adolescentes– como uma atriz na qual valia a pena prestar atenção. Aqui ela interpreta Skeeter, filha de uma família branca e rica de uma cidadezinha no estado do Mississipi. Quando volta da faculdade, decidida a tornar-se escritora, Skeeter não encontra em casa a babá negra que a criou e que tem na conta de uma segunda mãe. Pra exorcizar as saudades, tem a ideia de contar histórias de outras mulheres negras que, nos papeis de empregadas e babás, criam de fato os filhos das mulheres brancas das classes abastadas.

Muitos empecilhos vão se opor a seu projeto, mas a força das histórias se impõe e ensina mais de uma lição, a ela mesma e à sua mãe branca.

Vale a pena ver e rever!

‘Histórias Cruzadas’: tocante!

“Histórias Cruzadas” (The Help) traz a então promissora Emma Stone no primeiro papel sério de sua carreira no cinema e uma história inspiradora de sororidade.

Emma interpreta Skeeter, jovem recém-formada em Jornalismo e única solteira e sem filhos de uma turma de amigas que se conhece desde a infância, na pequena cidade de Jackson, no Mississipi (EUA). No início dos anos 1960, quando vigoravam naquele Estado leis de segregação – proibindo, por exemplo, que negros partilhassem com os brancos desde livros e poltronas de ônibus a banheiros -, ela decide escrever um livro mostrando o ponto de vista das empregadas negras que trabalham para famílias brancas e são obrigadas a conviver com todo tipo de discriminação. Foi inspirada pela falta que lhe faz sua babá negra, que não reencontra ao voltar pra casa da faculdade.

Inicialmente, Aibeleen (Viola Davis, estupenda!) e Miny (Spencer), empregadas de duas de suas amigas, são as únicas a aceitarem o risco de infringir a lei por reunirem-se com uma branca para contar suas histórias de vida. A coragem surgirá a seu tempo, despertada por uma série de acontecimentos e injustiças envolvendo discriminação e ódio racial, tanto no País quanto na pequena Jackson. Em meio a eles, Skeeter, Minny e Aibelleen conhecem o melhor e o pior das pessoas de suas relações.

Vale a pena conferir.