Deve ser maravilhoso viver na cabeça do francês Jean-Pierre Jeunet. Quem já assistiu a “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, “MicMas – Um Plano complicado” e “Uma Viagem Extraordinária” sabe do que estou falando, pois são filmes que nos fazem sair leves e felizes do cinema.
O primeiro tornou-se um cult e projetou o nome do diretor e co-roteirista – em todos os títulos citados, em parceria com Guillaume Laurant – na história recente do cinema, graças à fotografia vibrante, personagens fora dos padrões, situações completamente improváveis e uma bem vinda fé na humanidade.
Os ingredientes eram inovadores para a época do primeiro filme (2001), mas a repetição deles prova que Jeunet investe na mesma receita – muito particular, é verdade, mas ainda uma receita – há pelo menos três filmes (exceção a “Eterno Amor, de 2004).
“Uma Viagem Extraordinária” prova que ela ainda funciona. Impossível não se enternecer com o relato que o menino T. S. Spivet faz do cotidiano de sua família muito peculiar, vivendo em um rancho de Montana.
Um dos três filhos do improvável casal formado por um caubói silencioso e uma cientista verborrágica (Helena Bonham Carter), T. S. é superdotado de inteligência. Seu irmão gêmeo ficou com a parte da força bruta na divisão dos dotes, e a irmã mais velha faz o gênero “típica-adolescente-fútil-rebelde”.
A viagem do título começa por causa de um projeto de máquina de movimento perpétuo de T.S., que acaba escolhido para receber o prêmio Baird, do Museu Smithsonian, em Washington. O garoto não tencionava ir recebê-lo, mas uma tragédia familiar o faz decidir embarcar clandestino em um trem para atravessar o país. No caminho, ele enfrenta a solidão, recebe ajuda de estranhos e, ao chegar a seu destino, aprende mais de uma lição.
Assim como “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, “Uma Viagem Extraordinária” é visualmente bonito e prazeroso de assistir – “uma gracinha”. Mas, graças à receita já conhecida, suspeito que não terá a mesma longevidade de Amélie Poulain na memória do público.