Fã que sou da série “X-Men”, estava ansiosa para assistir ao produto da franquia que conta a história pregressa do seu herói mais carismático. Mas “X-Men Origens: Wolverine” (Men Origins: Wolverine, EUA, 2009) me decepcionou, apesar de reunir os principais requisitos de um eficiente filme de ação. Para mim, a produção fica aquém da proposta maior da série, de provocar reflexão sobre os vieses inconscientes que nos levam a temer e segregar o diferente.
Não que a ação seja o ponto fraco dos produtos anteriores da série – “X-Men” (2000), “X-Men 2″ (2003) e “X-Men 3: O Confronto Final” (2006) – muito pelo contrário! A diferença é que neles, esta pegada é tratada como um entre muitos recursos à favor de contar histórias com um propósito: provocar reflexões sobre os mecanismos do preconceito. Seus roteiros tecem alegorias de situações de intolerância com as quais convivemos no dia a dia, às vezes sem percebermos. Oo espectador fisgado pela ação acaba convidado a, subliminarmente, refletir sobre de que lado dos conflitos entre mutantes e não-mutantes estaria: dos que lidam com o preconceito dando o exemplo da tolerância com a qual não contam, ou dos que escolhem se vingar e subjugar quem os segrega.
Já o filme sobre Wolverine sobrevoa a questão ao contar sua história pessoal, que começa em 1880, quando ele nasce filho de ricos fazendeiros de Alberta (Canadá), e vai até o momento em que, adulto e amargurado pelo assassinato da esposa, aceita ser cobaia em um projeto secreto do governo. Finalmente descobrir como Stryker – o militar sem escrúpulos que conhecemos mais velho em “X-Men 3 – comandou a experiência de fortalecer o esqueleto de Logan com adamantium, e como este ganhou o condinome Wolverine são pontos a favor da história. Até concedo que, em dado momento, o roteiro sugere um dilema interior do herói, entre ser humano e deixar sua natureza animal aflorar, mas nada que encontre similares na realidade pra instigar a reflexão.
“X-Men Origens: Wolverine” acaba fazendo dos recursos de ação da franquia a própria razão do espetáculo. Agrada, claro, aos fãs do gênero, com suas lutas, assassinatos espetaculares e perseguições, mas perde os espectadores que, para além da experiência sensorial, valorizam as perguntas que uma boa história é capaz de suscitar. Somando tudo, resulta em um ótimo filme de ação! Mas só.