Nossos idosos não são mais aqueles

Quando escrevi pela primeira vez sobre a série cômica “Grace & Frankie”, em 2015, achei que não houvesse mais o que explorar na história de dois casais idosos que se reconfiguram da forma mais inusitada (ou não nestes tempos “gay friendly”): os dois maridos “saem do armário” ao mesmo tempo para assumirem sua relação homo-extraconjugal, que já dura 20 anos – dos 40 que os dois casais mantinham amizade e vidas entrelaçadas.

Mas a série da Netflix chega à sua terceira temporada em grande forma, obrigada!

Embalada por um timing cômico sofisticado e, de certa forma, codificado – significa que nem todos vão entender as piadas, principalmente quem está na faixa abaixo dos 40 anos -, a série aborda com extrema verdade e inteligência os conflitos que o novo perfil de idosos têm tido de enfrentar atualmente.

Nossos idosos de hoje não são mais sombras das pessoas que foram apenas esperando para morrerem em cadeiras de balanço, camas de hospital ou quartos de asilo. Principalmente os das classes média acima, mantêm-se funcionais e lúcidos, o que, de certa forma, até os torna mais sensíveis aos tratamentos preconceituosos das novas gerações, pois eles não se sentem como os seus jovens o tratam: seres ultrapassados.


“Nossos idosos de hoje não são mais sombras das pessoas que foram apenas esperando para morrer em cadeiras de balanço”


Na segunda temporada, exibida em 2016, Grace e Frankie tiveram de lidar com o processo de despedida de uma amiga com câncer que manteve uma vida “solar”, positiva e generosa até o melancólico fim, enquanto Robert e Sal tentavam se entender após o primeiro descobrir que o segundo teve um “sexo de despedida” com a ex-mulher.

Grace e Frankie chegam ao último episódio enfrentando a triste conclusão de que são tratadas como peças inúteis no xadrez familiar, mas prometendo que darão a volta por cima iniciando um negócio próprio juntas.

A terceira temporada as encontra enfrentando as dificuldades de praxe para conseguir levantar capital para o novo negócio: fabricação de vibradores específicos para idosas, que respeitem as limitações físicas típicas da fase (artrite, por exemplo), tecido vaginal ultra-delicado e com baixa lubrificação (se você pensar bem, é um baita nicho… rs).

O problema é que nenhum banco se arrisca a conceder empréstimo com amortização de longo prazo para duas mulheres na casa dos 70 anos, a despeito delas gozarem de boa saúde, energia e de Grace ter um bem-sucedido currículo de empreendedora – afinal, ela montou do nada a empresa de produtos femininos que a filha mais velha agora administra e na qual ela não é mais bem-vinda.

Parece uma história triste – e no fundo é -, mas você não consegue chorar nesta série. Se tiver o repertório certo, vai é rir muito, mesmo que no fundo se entristeça por reconhecer que aquelas verdades temperadas com o humor inteligente da roteirista Martha Kauffman (de “Friends”) são é de chorar.

 

P.S. By the way, quero envelhecer como a Jane Fonda!