‘Histeria’: a invenção do vibrador

Entre os créditos iniciais de “Hysteria” consta a seguinte advertência: “This story is based on true events… Really“(algo como: “esta história é baseada em fatos reais… ACREDITE”). A veemência é necessária à medida que descobrimos que trata-se da história de como foi inventado, no final do século 19, nada menos que o primeiro VIBRADOR.

É interessante e divertida a forma como o roteiro apresenta as contradições em torno da criação de tal aparelho. Na Londres de 1880 a eletricidade ainda era uma invenção nova, utilizada de forma experimental, e o uso de antibióticos para combater infecções era uma corrente inovadora da medicina ainda pouco aceita entre os profissionais da velha escola, o que causava ataques de revolta no jovem e idealista médico Mortimer Granville (Hugh Dancy, lindo como sempre!).

Paradoxalmente, o médico de senhoras Horace Dalrymple (Jonathan Price) ocupava-se, mais do que de problemas do órgão reprodutor feminino, de tratar o que ingênua e respeitosamente (de verdade!!!) a medicina da época chamava de histeria. O mal, que acometia mulheres das mais variadas faixas etárias, era caracterizado por variações de humor que provocavam certos pensamentos “antinaturais e estressantes” nas mulheres. Seu tratamento – paliativo, já que era considerado sem cura – consistia em provocar uma descarga de tensão nas senhoras por meio de massagens… adivinhem onde.

Acreditem, o filme nem de longe flerta com pornografia ou erotismo. Chega a ser admirável como consegue contar esta história sem sequer banalizá-la. Mas não deixa de ser divertido observar Price, com sua indefectível classe de lorde inglês, demonstrar enfado e cansaço com o tratamento aplicado às mulheres, a ponto de passar o encargo ao novo assistente com indisfarçável alívio. E é com senso de dever altruísta que o jovem médico aceita o trabalho.

Quando o excesso de esforço começa a causar-lhe lesão muscular na mão – o que hoje chamamos tendinite – a ponto de incapacitá-lo, Granville leva o problema ao amigo metido a inventor, que passa o tempo a fazer experimentos com aparelhos movidos a eletricidade.

Paralelamente a tudo isso, ainda sobra tempo para Granville cortejar a filha mais nova de Dalrimple e ser cooptado para a causa humanitária da mais velha, considerada ovelha negra por gastar o dinheiro da família com a manutenção de um abrigo para a população pobre de Londres.
Adivinhe quem vai acabar conquistando seu coração…

1 comentário

    • Araraqura em 27 de janeiro de 2014 às 14:36

    Filme adorável!
    Um dos pontos altos do filme na minha opinião é a discussão sobre o papel da mulher no século 19 e as consequências disso. Muito bom!!!

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